quinta-feira, 30 de novembro de 2006

Olhares que fascinam...

Porque a memoria nao deve ser esquecida, sera justo relembrar o assassinato de Gisberta a horas do Dia Universal da Luta conta a Sida

Lamento, mas recuso-me a fazer parte da maioria silenciosa!
Lamento, mas não vou seguir a estratégia do politicamente correcto, omitindo a questão e preferindo sentar-me numa esplanada a saborear um gelado, em frente ao mar, enquanto debito generalidades, sobre os temas da actualidade, seguindo os ditames de uma consciência pública que se fragiliza e grita quando convém e se cala, quando mais conveniente é!
Lamento, mas não vou por aí!
Lamento, mas não vou assobiar para o lado, argumentando que “está calor”, “ninguém quer ler crónicas desagradáveis e pesadas, quando o calor aperta e o convite é explicito para o divertimento e a displicência”. Não usarei esse argumento falacioso!
Lamento, mas nem sequer me vou atrever a alegar que justiça foi feita, porque eu sei que não é verdade!
Lamento, por Gisberta.
Lamento, por os media terem dado muito menos divulgação à resolução do colectivo de juízes do Tribunal de Família e Menores do Porto que decidiu as medidas que iriam ser aplicadas aos assassinos de Gisberta, do que a eventos bem menos importantes, talvez porque vendem mais ou porque não interessaria acordar uma consciência fascinada com o conflito israelo-libanês ou com a problemática dos incêndios em Portugal! Sem querer fugir ao fio condutor, mas porque é uma observação que urge ser feita e que, estranhamente não vi ninguém efectuar... Alguém reparou que durante o Mundial de Futebol, praticamente não houve incêndios em Portugal quando, por diversas vezes, os termómetros atingiram, em várias localidades, os 30 e os 40 graus?
Mas deixemos este reparo breve, quase em nota de rodapé e regressemos, uma vez mais e sempre, ao caso Gisberta.
Lamento, por tudo isto, mas e principalmente, por Gisberta, que não conheci, mas em quem não deixo de pensar, após o seu brutal assassinato, com requintes de malvadez, por gente que o Sistema decidiu inocentar. E se por acaso me tivesse esquecido do animalesco assassinato, se por acaso não continuasse a usar o exemplo, como “case study” em todas as conferências que efectuo, com o intuito de efectuar um permanente remember me, se por acaso, dizia, me tivesse esquecido... tinha sido violentamente acordado para a realidade, da forma mais insana e hipócrita, aquando da decisão do tribunal... aliás, cumprindo a prévia decisão do Sistema!
Os 13 assassinos foram condenados (premiados) a medidas tutelares de internamento em centros educativos por períodos que vão dos 11 meses – aplicada a cinco assassinos – aos 13 meses – aplicada a seis outros assassinos –, todas elas cumpridas em regime semi-aberto. Ainda dois outros foram obrigados, durante um ano, a frequentar a Escola e a ter acompanhamento educativo... Ocorre-me perguntar, sarcasticamente, como se pode condenar alguém a frequentar a Escola... quando a mesma frequência já é obrigatória por Lei... Ou desconhecerá o Sistema que o ensino escolar é obrigatório, nas faixas etárias referidas?
É este o preço de uma vida, no caso em apreço de Gisberta, nascida a a 5 de Setembro de 1960 em S. Paulo, no Brasil e assassinada no Porto, em Portugal, em Fevereiro de 2006 e de novo assassinada, agora pelo Sistema, em Julho de 2006.
11 a 13 meses...
Lá bem no fundo, no mais recôndito do meu ser, eu sabia que o Sistema ia ganhar, perversamente... mas não queria acreditar.
Nem sequer detectei indícios quando o julgamento foi marcado em tempo recorde.
Tão pouco vislumbrei pistas do desfecho hediondo, quando alguns jornalistas foram anunciando, em tom de breve referência, que a audição das testemunhas iria ser feita muito rapidamente.
Lamento por tudo isto e por todo este tenebroso desfecho.
E ainda houve quem dissesse, do alto da sua suprema sapiência, que teria sido “uma brincadeira que correu mal”...
Uma brincadeira que correu mal?
Torturar, com requintes de extraordinária malvadez e perversidade um ser vivo, durante ininterruptos dias?
Esbofeteada, esmurrada, cuspida, insultada, violentada, penetrada com objectos contundentes, queimada com cigarros e por fim atirada para um nojento poço de vários metros de profundidade, ainda viva, foi uma brincadeira que correu mal?... E que apenas merece como discreta penalização 11 a 13 meses de internamento numa instituição de acolhimento, em regime semi-aberto?
O que teria sido preciso mais?
Prolongar a brincadeira, mais ainda?
Que tal esquartejar o cadáver... ou talvez comer-lhe as entranhas? Seria, ainda, uma brincadeira que foi longe de mais?
Mas o Juiz preocupou-se, também, em alertar para o facto de esta não ser uma sentença punitiva mas antes de socialização... E de Gisberta, alguém se lembrou dos simpáticos pormenores de socialização que durante tenebrosos dias os referidos assassinos se divertiram a ministrar a seu bel prazer, na tal brincadeira que correu mal?
Até os advogados de defesa, intervenientes directos nesta farsa, quiseram dar o ar da sua graça neste argumento felliniano, infelizmente bem real... um achou que devia processar o Estado Português, outro referiu que esta sentença permitia ao assassino encarar um projecto de vida...
Talvez Gisberta gostasse de ter podido encarar, também ela, um projecto de vida e não um pesadelo animalesco de morte torturada em que, certamente, muitos dos seus gritos uivados de forma sangrenta, foram cobertos pelo gargalhar animalesco dos seus algozes, todos perfeitamente conscientes do que estavam a fazer.
Lamento não ter ouvido, neste momento, muitas daquelas instituições, vulgo partidos políticos que, nestas ocasiões, se costumam arvorar em defensores exclusivos dos perseguidos e oprimidos... talvez tenham já entrado em época estival!
Lamento não ter ouvido a Igreja, enquanto instituição, teoricamente defensora máxima dos oprimidos, dos marginalizados, dos injustiçados, dos violentados, solidarizar-se com a vítima...
Lamento tudo isto que me enoja e enraivece!
Mas já podemos todos, de forma aparentemente tranquila, regressar à praia, cantando e rindo, para disfrutar os prazeres que uma estivalidade tranquila proporciona... apanhar sol, bronzear, mandar uns piropos, comer algum marisco, desde que o orçamento familiar o permita, discutir futebol e beber uns copos com os amigos... que tudo voltou à normalidade... o caso terminou, foi julgado e tudo ficou em paz.
Não!
Lamento, mas não é assim!
Lamento, mas em tranquilidade eu não fico... ia quase a escrever “enquanto justiça não for feita”... mas um esgar ácido de revolta mesclado com acidez e nojo toldou-me o sarcástico sorriso sofrido que se desenhava...
Que justiça?... a do Sistema?!
Lamento... mas não consigo entender nem esquecer!
in "O Primeiro de Janeiro"

terça-feira, 28 de novembro de 2006

Ja que estamos numa fase ecumenica com a visita papal a Turquia nao resisti a mais esta provocaçao!

Sorrir nao paga imposto...ainda!

Os meus alunos...

Com o passar dos anos de docência no Ensino Superior, fui aprendendo a identificar as técnicas, os rituais e a descodificar os registos que os meus alunos utilizam para falar comigo.
Não que seja um professor distante ou de difícil abordagem! Sempre fiz questão de criar e intensificar uma relação aberta com os meus alunos, dinamizando uma cumplicidade, que num primeiro momento os surpreende e depois os satisfaz, não significando, contudo, permissividade nos momentos de avaliação, que defendo exigentes e formais.
É possível ensinar sorrindo e com alguma irreverência, tentando desconstruir o estereótipo de que o professor do Ensino Superior tem de ser inatingível, impenetrável, doutoral, cinzento e quase esfíngico. Muito menos é necessária a pose de desdém, do alto de uma aparente sapiência, como que insultado pelas infelizes criaturas que ousaram incomodar o douto docente na sua caminhada de excelsa produção intelectual.
O Ensino Superior, em Portugal, para atingir lugar de pleno direito na aldeia científica global a que pertencemos, tem de ser exigente, transparente, assertivo e permanentemente actualizado.
Talvez por isso, a minha dupla postura com os discentes!
Dizia, acima, que aprendi a descodificar as mais diversas técnicas que se vêm repetindo e, por vezes, inovando com o tempo, que os meus alunos utilizam para me confrontarem com as suas dúvidas legítimas. E não me refiro a questões acerca da matéria leccionada!
São todas as outras, aquelas que implicam os tais rituais que aprendi a identificar com o tempo.
São olhares que se trocam durante as aulas, fugidios, que logo depois se desviam, com timidez, como que pedindo desculpa pela ousadia.
São posturas tensas, de quem quer e precisa de perguntar, mas que se encontra condicionado pela timidez gerada pelo próprio tema, que se supõe intocável.
É o corpo que, de repente, passa a não caber na cadeira, que muda de posição constantemente, intranquilo, preso de um frenesim que não se controla.
É um respirar mais agitado e um afogueado da face…um não encontrar lugar para as mãos que não param, irrequietas.
É um “preciso de ajuda”, tenso, preocupado, quase aflito! Todo um ritual de posturas, de olhares, de gestos suados…E, num repente, enfim ousado e tão estudado, tudo se resume à frase mais repetida, ciciada, de alguém que se aproxima e, com palavras tímidas, diz em surdina “Professor, tenho um problema na sua área”, quase pedindo desculpa pelo atrevimento!
Com esta expressão, arrancada a ferros, torturada, aflita, resumem todas as dúvidas, o desconhecimento, os tabus e os mitos que o Sistema e a Sociedade têm permitido perpetuar, na área das Sexualidades.
É o medo da ignorância, condicionado pela ousadia envergonhada...
São os mitos que se construíram e perpetuaram ao longo das gerações, geradores de ansiedade verdadeira e asfixiante, jamais descodificados com naturalidade e clareza.
São as dúvidas, genuínas, que se avolumam com os estereótipos que a Modernidade vende à exaustão.
É, enfim, todo o desconhecimento, natural, de quem não nasceu ensinado, e que não tem a quem perguntar, a quem acorrer, para saber.
É esta a nossa Sociedade que, travestida de modernidade, ousa ainda impor a hegemonia do silêncio, no que se refere às Sexualidades, impedindo oportunidades e espaços para as perguntas, dúvidas e incertezas, educando para os tabus e o pudor, fomentando a vergonha angustiada, daquilo que não se fala!
in "O Primeiro de Janeiro"

O meu Porto...que tanto amo!

O peso de dizer "Amo-te"!

Vivemos numa Sociedade despudoradamente plástica!
Pronto!
Se o pensei, escrevi-o. Se está escrito, está assumido!
Senão, vejamos…
Vivemos numa sociedade em que somos constantemente bombardeados com estereótipos que os media alardeiam, referenciais utopicamente inatingíveis, ainda que hiperpresentes e à distância de um olhar, condicionando em permanência as vivências de cada um.
Estamos, todos, sob a tirania do “perfect body and no mind”, e a angústia do inatingível tortura-nos em permanência.
É o mito da perfeição, que usa sabiamente todos os nossos sentidos, condicionando ferozmente procedimentos, atitudes e ideais.
E isso reflecte-se, perversamente, no âmbito das nossas relações, na janela da nossa afectividade.
É a era da World Wide Web, em que o amanhã rapidamente se torna hoje e vertiginosamente ontem, transmutando as certezas logo em probabilidades e depois em inverdades… e isso condiciona as nossas vivências afectivas.
A época é de incertezas, senão de contradições, gerando um elevado potencial de insegurança.
E, como tal…não há tempo!
Tudo tem de ser rápido e prático, a busca do dito amor perfeito surge aparentemente extenuante, atirando para a prateleira dos referenciais museológicos a procura, hoje tornada insana, do “foram felizes para sempre”!
As relações tornaram-se plásticas e descartáveis… e por isso práticas e rápidas.
Assumidamente não vinculativas…propagando um quase temor de vinculação afectiva.
Isto porque construir uma relação implica tempo, disponibilidade, investimento, paciência, confiança, negociação, aceitação, dádiva,…ou seja, a queda das máscaras que todos criámos, com o intuito de protecção…e, sem elas ficamos frágeis.
Amar fragiliza e a modernidade não se compadece com fragilidades!
Dessa constatação advém a cómoda justificação da plasticidade moderna das emoções.
Já para não referir a aparentemente consensualidade quanto à genitalização das vivências.
Parece não haver tempo para a ternura e para o carinho, temendo-se o peso avassalador de dizer: Amo-te!
E isto é um fenómeno que não se direcciona apenas para algumas faixas etárias da nossa aldeia global, atingindo transversalmente e de modo preocupante todos estratos sociais e etários.
Urge inverter a situação!
Urge criar espaço e tempo para dizer: Gosto de ti!
Amar e ser amado tem de continuar a ser um desejo universal, sem medo dos custos… até porque o reverso da medalha é a solidão afectiva…rodeada de uma enorme e gélida imensidão de pequenos nadas.
in "O Primeiro de Janeiro"

" O Diabo veste Prada"- um filme a nao perder



segunda-feira, 27 de novembro de 2006

Honda Civic- Choir

Um clip delicioso...

Nao gosto quando estas triste!


Não gosto quando estás triste !
Sinto na minha
a dor da tua pele .
Sinto que sentes
aquela dor que arde,
que morde,
que rasga...
E eu nada posso fazer,
porque estando perto,
bem a teu lado,
estou longe...
Não gosto quando estás triste !
Porque em mim
sinto-te a ti
e a mim doi,
o que te doi
e doi mais ainda,
por saber que te doi !
Não gosto quando estás triste
e te sinto frágil,
dorido,
chorado...
E eu me sinto impotente,
sem poder,
sem forças,
para tirar-te a dor,
pondo-a em mim!
Não gosto quando estás triste,
porque eu fico logo triste
e tu ficas ainda triste...
Não gosto quando estás triste !
Seria eu sempre triste
para que tu
nunca estivesses triste !
Não gosto quando estás triste !
Não gosto quando estás triste !
Não gosto !...

Aids campaign video clip

O dia 1 de Dezembro é o Dia Mundial de Luta contra a SIDA. Este é o meu contributo...

Manha de segunda-feira


Grrrrrrrrrr..............

domingo, 26 de novembro de 2006

Uma das vertentes do tItulo deste blog...as MASCARAS

A Ciência Sexológica reporta a uma área do Saber, a Sexologia, a principal responsável pelo estudo e compreensão das Sexualidades, ainda que condicionada pela dificuldade em conquistar espaço próprio e visível, principalmente por abordar a intimidade do ser humano, habitualmente estereotipada pelo silêncio envergonhado daquilo que não se fala.
Este condicionalismo surge como aparentemente utópico, dado que as Sexualidades se encontram directa e intimamente relacionadas com a auto-estima, através da satisfação das necessidades de Maslow aparente garante, de per se de saúde física e mental.
As Sexualidades integram, também, um infindável manancial de condicionantes, directa ou indirectamente intervenientes na gestão dos afectos e na integração das emoções.
E sendo esta uma área complicada, mais se torna quando se direcciona para os Mais Velhos, estigmatizados socialmente, também por culpa dos media que, projectando uma imagem sócio-cultural nefasta, influenciam a forma como estes constroem a sua auto-imagem.
Com efeito, em relação aos Mais Velhos, tem-se vindo a generalizar, de forma perversa, a verdade pretensamente absoluta de que a actividade sexual, se existente, deve direccionar-se para a meiguice e o carinho. Como se o direito à fisicalidade e principalmente ao prazer constituísse exclusiva propriedade do adulto activo e com vinculação laboral. Como se lhes estivesse interdito “o jogo misterioso que vai do amor de um corpo ao amor de uma pessoa” que referia Marguerite Yourcenar.
Isto quando nos referimos a uma população que, segundo dados do INE, se prepara vertiginosamente, em Portugal, para atingir a fasquia dos dois milhões de pessoas.
É inegável que o aumento da idade pode ser acompanhado por algumas limitações em termos de desempenho, nomeadamente quando estão presentes condicionantes fisiológicas consequentes a patologias. Todavia, associar esta etapa da vida a incapacidade, défice, perda ou impossibilidade absolutos, é impor limitações desnecessárias, imprecisas e castradoras.
Aos Mais Velhos deve ser imputado o direito a compreender, assumir e integrar, com toda a dignidade, as eventuais alterações corporais, munindo-se de novos recursos e estratégias, mantendo sempre presente que, em qualquer fase da vida, está implícita a possibilidade de uma vivência sexual satisfatória e prazerosa.
Através do assumir das eventuais alterações orgânicas com naturalidade e tranquilidade e do respeito pelos limites que o corpo impõe, será possível alcançar o direito à intimidade/sexualidade em plenitude, nunca esquecendo que o aumento da idade não pode nem deve conduzir ao sentimento de deserto sexual.
Já, sobre isto, Masters e Johnson afirmavam com veemência “Tem um tremendo efeito fisiológico e um claro valor psicológico, a manutenção da actividade sexual”! in jornal "O Público"

Uma serie que, aparentemente de forma soft abordou diversas tematicas "complicadas" na area das Sexualidades




Não é justo!
Não acredito que tenha andado tão distraído, como tal, como para bom português, fácil é atirar as culpas para cima dos outros quando não se consegue ou se tem medo de assumir as responsabilidades, será para mim mais fácil culpabilizar alguém, que não eu.
Assim sendo, se não fui eu que estive desatento, preferível será dizer que ninguém me avisou e, com esse abrangente e comodamente anónimo Ninguém, englobo tudo e todos, desde o arrumador que todos os dias me crava, até ao Primeiro da Nação que, de outra forma, bem mais dolorosa, também todos os dias me crava.
Por isso repito... ninguém me avisou!
Nem sequer um triste e amarelento decreto, decrépito por ninguém o ler, se entreteve na sua função vã de decretar tal facto, porque sim e também porque não.
Nem um triste e ridículo decretozito foi promulgado!
Lenta mas asfixiantemente, a decisão instalou-se, de forma anónima porque são as piores e foi alastrando, roendo, destruindo...
Uops!
Lamento, mas não estou em delírio persecutório, nem saindo aos poucos de uma tenebrosa ressaca, nem sequer às portas de um confrangedor diagnóstico de Alzheimer com que alguns, poucos felizmente, gostariam de me delimitar.
Lamento, por só agora ter reparado...
Acabaram as Cartas de Amor!
“Passou-se!”, poderá, levianamente, pensar quem neste momento me lê... mas será, decerto, quem por pouca idade, não percebe do que falo... porque aqueles do meu tempo, que não vai tão longínquo, que dinossauro não me sinto, bem sabem do que falo e, da mesma nostalgia partilham, certo estou!
Era um ritual transversal à sociedade, a todos os estratos sócio-culturais e a todas as faixas etárias!
Que doía, mas agridoce e que era uma etapa intransponível no trajecto dos afectos.
E tinha rituais.
E tinha passos.
Primeiro, “via-se” alguém.
Depois “olhava-se para” e isso, significava um avanço em termos de processo de intenções... o “ver” era mais imparcial e asséptico. O “olhar” era já bem mais carregado de intenções... significava que havia algo ou alguém para quem valia a pena olhar, com mais atenção.
Seguidamente passava-se à análise, digamos metafísica, do objecto do desejo... embora esse desejo ainda não fosse consubstanciado em fisicalidade ou sequer essência de verdadeiro afecto.
E se a visão e eventualmente outros sentidos se sentissem envoltos, conquistados, seguia-se o período de latência, o período necessário à germinação dos afectos.... Era o período em que a substância afecto se entretinha a levedar.
Só então, quando o processo germinativo se encontrasse concluído, com êxito, se passava à fase seguinte, a retumbante, a da escrita. E assim se iniciava a caminhada dolorosa-prazerosa das Cartas de Amor. Que não eram simples cartas... eram As Cartas.
Até o papel era diferente, dependendo do arcaboiço sócio-económico do Autor. Havia-as de todo o tipo, para todos os gostos, perfumadas ou não, de papel colorido ou singelamente branco, com flores, com imagens, com paisagens em marca de água, até com bonecos e algumas, que as havia, com milhares de corações, de todas as formas e feitios, mas inevitavelmente vermelhos, ainda que o dégradé fosse possível.
Obviamente que o papel da missiva era complementado pelo envelope que, habitualmente, seguia a mesma linha iconográfica podendo, todavia, ser mais discreto ou mesmo esbatido.
Mesmo o processo de aquisição do veículo da mensagem afectiva era lento e sofrido, começando pela escolha da papelaria e terminando na luta mano a mano tida com o empregado para lhe conseguir explicar, de forma titubeante e corada, o que se pretendia e que inevitavelmente recebia em troca um sorriso cúmplice, por vezes acompanhado de um piscar de olhos encorajador. E tinha que ser um empregado do mesmo sexo, para que a cumplicidade sofrida se tornasse menos constrangedora... Ah, velha cumplicidade inter pares!
Depois vinha a fase mais importante, o mais doloroso e esforçado de todo o processo, a construção do texto, dando azo ao mais elaborado fraseado, poético, meigo, romântico, tentando exprimir da melhor forma, aquilo que ia na mente, que então se denominava alma, de quem escrevia.
Era o tempo das figuras de estilo, com especial incidência para as metáforas e para as hipérboles!
E saiam verdadeiras pérolas literárias, onde normalmente despontavam as comparações do sorriso com as águas do mar, se falava do cabelo revolto e dos olhos em amêndoa, quais estrelas do firmamento. Os mais atrevidos, deixavam escapar algumas referências, ainda que muito vagas, ao corpo.
Não raras vezes, o texto era escrito a mais do que uma mão, com o empenhado contributo do melhor amigo, do “irmão mais velho-mais experiente nas andanças do amor” ou mesmo de um primo mais solícito.
A fase seguinte era passar a carta a limpo... Sim, que isto da escrita envolvia diversos rascunhos, folhas que raivosas e outras frustradas, iam caindo no balde do lixo e só o texto definitivo era o eleito. Apenas então, adquirida a forma mais aprimorada, se obtinha o direito a figurar no “papiro do amor”.
A fase final era a da entrega que, à época, poderia ser pelo correio, pela mão de uma amizade disponível, habitualmente chegada ao ser eleito ou mesmo através do uso de estratégias do “deixar esquecido de forma a que bem vejas”...
Culminava todo o processo a demorada angústia da resposta, que poderia durar longos e infindáveis minutos, dolorosas horas ou tenebrosos dias.
Normalmente chegava, na forma de um sorriso, de um olhar cúmplice acompanhado de um enrubescer da face ou, glória eterna, o direito a uma carta-resposta.
Era assim que se cumpria o processo... era assim que se vivenciavam os preliminares do que poderiam vir a ser os afectos e quiçá... a mais linda história de Amor.
E veio a Modernidade... que simplificou tudo, muitas vezes beneficamente, outras tantas, duvido!
As Cartas de Amor foram substituídas pelos e-mails, pelas sms, pelas mms e por toda uma turba comodamente transformada em sigla, porque mais fácil e rápida... e assim se perdeu a magia, assim se perdeu uma das mais belas, ainda que sofridas, formas de dizer “Amo-te”! in "O Primeiro de Janeiro"

Um dos nomes intemporais que marcaram...OSCAR WILDE

reflexoes...

Da relação à ralação
Qual é a distância que vai da relação à ralação? Não, não estou em registo delirante. Refiro-me mesmo a como se passa do “Amo-te” ao “Odeio-te”! Viver em relação é complicado, é uma verdade axiomática, todos os sabemos e, até no caso da Eva e do Adão, as coisas não correram, decididamente, pelo melhor. Porém, esta crónica não se pretende constituída por frases redundantes. Mas é, para todos os efeitos, uma verdade insofismável que a vivência em casal é delicadamente complicada. Porque habitualmente são duas pessoas, diferentes, nos trajectos, nos gostos, nos percursos de vida, nas vivências, que a dado momento se unem e que, em princípio, de forma pedagógica, tentam efectuar uma aproximação, teoricamente recíproca, com o intuito da concretização de um projecto de vida comum. São gostos que se procura que convirjam. São afinidades que se tentam direccionar para um mesmo sentido. São vivências que se tentam, mais do que partilhar, compartilhar. São realidades espacio-temporais que se desejam fundir. São objectivos e metas que se miscigenam. Relembrando a frase “Eu sou eu e as minhas circunstâncias”, em relação tenta-se que as circunstâncias de cada um dos envolventes se tornem propriedade do casal e da circunstância que consubstancia a sua vivência a dois. Não me parece, contudo, esta a estratégia mais correcta e mais frutuosa para que dessa união nasça um projecto saudável de vida a dois. Não me compete a mim, neste momento e neste local elencar um conjunto de normas, leis, princípios, verdadeiras mezinhas miraculosas que assegurem o “E foram felizes para sempre”. Acresce o facto de que a vivência em relação não vem, infelizmente, com um manual de procedimentos em anexo. Até porque a vivência a dois não se compagina com estandardizações nem se resume a uma grelha de procedimentos. Convém, todavia, afirmar que a estratégia mais coerente talvez seja nunca esquecer que uma relação não pode desaguar no anular das duas vontades, dos dois gostos, dos dois perfis, para criar um pretérito tronco único, uno, indivisível. Quero com isto dizer que, apesar das negociações que, a dois e de forma madura, consciente, assumida e consensual se podem e devem efectuar, tal não poderá significar que deixem de existir dois percursos próprios, duas individualidades. Em relação, 1+1 não pode nem deve ser =1 mas antes = a 1 e 1. Tal coexistência não impede, contudo, que não se possa assistir a uma razoável adaptabilidade recíproca, a uma aceitável consonância, mas tudo o que vá para além disso poderá fazer perigar a capacidade de sobrevivência do projecto vida a dois ou, pelo menos, prejudicar o conceito de auto-estima e a estabilidade individuais. Em vez da sobreposição, será sempre preferível a negociação. Em vez da anulação a convergência aberta e disponível será, sem dúvida, mais frutuosa. A vivência a dois não pode nem deve representar a união de dois pólos, porque o risco de se anularem é grande, nem a fusão de duas realidades para a consequente criação de um projecto único, sendo preferível, desde que consensual, o limar assumido, coerente, transparente e participado de arestas, de divergências quando profundas e incómodas. Isto porque, a vivência a dois não se compadece com demasiadas facturas a pagar, ainda que a prazo e, neste deve/haver que é a vida, rapidamente se passa da relação à ralação, com todo o desgaste que inerente involução implica. in "O Primeiro de Janeiro" a 19-11-2006

A ESCADA QUE CONDUZ A ESTA "CASA NOVA"

Isto de "Casa Nova" é por demais complicado.
Mas com calma e paciência...chego lá!

sábado, 25 de novembro de 2006

Casa Nova!
Com todas as qualidades e incovenientes que de tal facto surgem.
A ver vamos...