quarta-feira, 30 de julho de 2008

ONDE ESTÁS?


Onde estás,
que te não vejo
mas te sinto,
aqui,
ali,
acolá?
Aqui um sorriso,
marca de um passado-presente
sem futuro.
Ali um olhar,
regressado,
de repente,
da espuma dos dias
que passam,
sempre iguais,
sempre os mesmos,
sem ti.
Acolá um gesto,
carinho,
presença,
ausência,
sentido,
chorado,
sofrido,
revoltado,
desistido...
Onde estás,
que te não vejo
mas te sinto
no ar?
Onde estás,
que te não vejo
mas te sinto,
nas costas,
das mãos,
nas palmas,
das mãos,
entre os dedos,
que já sorriram,
entrelaçados?
Onde estás,
que te não vejo
mas te sinto,
em mim?...

sábado, 26 de julho de 2008

GERAÇÃO Y

Houve a geração do "flower power"!
Houve a geração da "erva"!
Houve os "betinhos", os "metalica", os "surfistas", os "goticos", os "rappers"...
Houve os "yupies"...
Houve os "marrões".
Existirão sempre os "murcões".
Houve quem falasse numa "geração rasca", o que me fez pensar numa "geração à rasca"!
Falam nos "emo".
Não sei quantas mais virão, nesta aldeia global...
Agora estes?!
Dizem alguns, com graça, que é a geração Y...
Vá-se lá saber porquê!
:))))))))))))))))

sexta-feira, 25 de julho de 2008

"SEXUALIDADES, AFECTOS E MÁSCARAS"

Numa altura normal este seria o espaço e o tempo para aqui postar um comentário acerca de uma nova emissão televisiva do "Sexualidades, Afectos e Máscaras", emitido na Porto Canal.
Como o programa está de férias, com re-início programado para Setembro, aqui ficam alguns momentos.






terça-feira, 22 de julho de 2008

MODERNICES

Já que falamos em modernices, que tal estas perucas para gatos que encontrei na minha pesquisa pela net?




Foi lançado o primeiro livro da Patrícia Cruz, intitulado "Sempre como n'areia"...
Trata-se de uma história de amor.
Mas é mais do que uma simples história de amor...é uma história de amor alternativo, uma história de amor no feminino.
É uma história de amor homossexual feminino.
Pena é que, ainda hoje, se tenha que fazer esta distinção.
Pena é que, muito para além do direito à diferença, não esteja já instituído, como nos países civilizados, o direito à indiferença.
O direito a dizer "Amo-te!", independentemente da orientação, do sexo, da idade, do estracto social.
Mas regressemos ao livro da Patrícia Cruz.
É uma história de amor que consegue evitar a necessidade facilitista de cair no calão, tendência muito em voga nos meios literatos portugueses.
Nem sequer, por ser uma história de amor diferente, houve necessidade de cair na rotina da descrição das situações sexuais...bem longe disso.
É, apenas, e bem, uma descrição de uma vivência de Afectos...os encontros, os desencontros, os reencontros.
Em certos momentos a escrita faz lembrar Eça de Queirós, pelo pormenor a que chega...destaque para a receita do folhado de perdizes que sei ser deliciosa.
Uma chamada de atenção para a fuga à tentação fácil de que o livro terminasse com o "happy end" esperado...
A título de referência o facto de, com uma semana de vendas, o livro se preparar para entrar no "top ten" da Livraria Bertrand.

Parabéns, Patrícia!

MODERNIDADE...



A Modernidade nem sempre me seduz ou apraz...
Refiro-me a mais uma criação demagógica...a destes brincos para usar nos olhos...
Faz-me pensar que o Homem quando se cansa de não ter nada mais para descobrir, se limita a rodopiar em corropio sobre si próprio, como um cão que se irrita com a sua própria cauda.
Preferia que a Humanidade se dedicasse a descobrir o caminho para a Felicidade.
Penso que seria bem mais produtivo e menos ridículo e, pelo menos, agiria pelo e para o bem do Homem.
Helas!

sábado, 19 de julho de 2008

DOIS ROSTOS NA MULTIDÃO...


Dois rostos cruzam-se na multidão...
Sem nome, sem idade, sem relação...
São apenas dois rostos, que se cruzam na multidão.
Fruto do acaso, talvez.
Coincidência?
Quem sabe...
A força do destino?
Custa-me a acreditar em predestinação ou em desígnios...
Mérito de uma qualquer entidade divina?
Cada vez mais me é difícil atribuir, de forma facilitista e desresponsabilizadora, a uma qualquer entidade supostamente divina, a autoria de momentos e acontecimentos que sucedem, na vida de cada um, em catadupa.
Deus, Buda ou Alá, a existirem, não teriam tempo para desperdiçar com estes biliões de pequenas minudências que sucedem a cada segundo da existência universal, mesmo que possam significar a diferença.
E os anjos da guarda não têm competências nem poderes para conseguir alterar a trajectória do ser humano...
Sinceramente não vou por aí!
Nem sequer acredito que seja possível atribuir estes fenómenos ao desígnio de uma qualquer força cósmica ou à atracção electromagnética que une ou repele entidades.
Aconteceu, tão só e apenas.
Segundo a teoria probabilística, algo sucedeu para que estes mesmos dois rostos e só estes rostos, naquele momento único, nem um segundo a mais ou a menos, se cruzassem, naquele dia, naquela hora, naquele minuto, naquele preciso e conciso segundo.
Se um qualquer grão de poeira cósmica se tivesse deslocado, de forma ínfima, para um lado ou outro, num determinado momento, seria suficiente para pulverizar a probabilidade de existência deste encontro. Em termos práticos, um telefonema que surge, um atacador que urge atar, uma migalha que se apanha, um gesto de ajeitar um cabelo rebelde, uma saudação mais demorada a um vizinho, poderiam ter significado a diferença.
Mas não!
São dois rostos que se cruzam na multidão.
Anónimos.
Mas, mais ainda, são dois rostos que se cruzam, se fitam, se olham, se vêem!
E tudo isto marca a diferença.
A partir deste primeiro segundo do epifenómeno, estão reunidas as condições para que este possa ser o momento alfa de uma qualquer coisa...
A partir deste momento, tudo pode acontecer.
São dois rostos que se cruzam na multidão...
Mas são, também, dois rostos com um passado, um presente e que desejam, naturalmente, ter um futuro, que até pode vir a ser em conjunto...
Para estes dois rostos que se cruzam na multidão, o futuro pode estar a começar ali, naquele preciso momento e este encontro pode vir a representar um início...Pode vir a tornar-se um marco para mais tarde recordar com um sorriso de nostalgia e uma troca de olhares carregados de significantes e de significados.
São dois rostos que se cruzam na multidão, eventuais diferentes maneiras de ser e estar, de pensar, de agir, de reagir, de gostar, de desejar, de amar... certamente um diferente Património de Afectos.
Talvez não sejam, já, apenas dois rostos que se cruzam na multidão mas são, certamente, duas vivências, duas realidades, dois mundos...
As imponderabilidades acontecem mas, o Mundo continua a rolar, na sua altaneira inevitabilidade!
Manuel Damas in "O Primeiro de Janeiro" a 20/7/2008

"SEXUALIDADES, AFECTOS E MÁSCARAS"-43ª emissão - "Balanço"


Esta madrugada foi para o ar, na Porto Canal, a última emissão, desta primeira série, do "Sexualidades, Afectos e Máscaras". Foi o momento de efectuar um balanço, com serenidade, frontalidade e rigor.
Mas o mesmo balanço foi realizado com leveza e com a colaboração dos telespectadores.
Como forma de homenagem a todos aqueles que nos ouvem decidimos aparecer vestidos como se de uma gala se tratasse.
A Maria José levou um bonito vestido de noite preto e eu fui mais sóbrio, também todo de preto mas de camisa aberta.
Foi a nossa forma de homenagear todos os nossos amigos.
A meio do programa ofereci à Maria José, para completa e total surpresa, até porque foi em total sigilo, um ramo de 43 rosas vermelhas, significando todas as emissões que pusemos no ar.
Foram imensas as chamadas e sms recebidas, unanimemente cheias de elogios, de parabéns e de incentivo, o que nos deixou bem dispostos e com a sensação de acarinhados.
Também ao longo de toda a emissão fomos revelando pequenos detalhes de bastidores a quem nos acompanha e respondi a uma bateria cerrada de perguntas da Maria José acerca da génese do programa, sobre a minha forma de ser e estar e entrámos, mesmo, em algumas revelações de Afectos, como o momento mais difícil em televisão ou o mais cómico.
Creio que se criou um muito bonito momento de tv, com musicalidade, com ritmo, com vivacidade e com humor.
Saímos totalmente tranquilos, com a noção do dever cumprido e anunciámos o nosso regresso em Setembro, deixando no ar a curiosidade, que estimulámos, acerca de todas as novidades com que iremos presentear os nossos espectadores.
Penso que podemos estar de consciência perfeitamente tranquila.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

"SEXUALIDADES, AFECTOS E MÁSCARAS"-43ª emissão


Daqui a quatro horas e meia, mais especificamente à uma hora irá para o ar, na Porto Canal, mais uma emissão, a 43ª, do "Sexualidades, Afectos e Máscaras".
Este é, ainda, o único programa que, em directo, em televisão, em Portugal, aborda as Sexualidades e os Afectos, de uma forma informal, por vezes divertida, mas sempre pedagógica e com cariz científico, sem ligar a pudores e tabus, em tertúlia e em directo.
Hoje irá para o ar a última emissão, a 43ª, da primeira série.
Assim sendo será, uma vez mais, oportunidade para inovar, em televisão.
Fazer o que nunca ninguém faz...
Assumir um balanço, de forma frontal, sem modéstias, apontando o que foi dito, o que aconteceu de maior relevância, durante quase todo este ano de emissões e enunciar tudo aquilo que foi impossível dizer.
Mas servirá, também, para anunciar as coordenadas principais da nova série do SAM que terá início em Setembro, em princípio a 12 de Setembro.
Participe.
Espero que seja um grande programa.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

DIA DO ORGULHO 2008 - PORTO

Este ano eu e a Maria José Guedes fomos convidados para sermos Padrinhos Oficiais da 3ª edição da Marcha do Orgulho LGBT, no Porto, cujo lema foi "Igualdade é essencial, Educar é fundamental!"
Perante tão simpático convite e porque concordamos com o Manifesto que foi produzido, prontamente aceitámos, tendo-nos prontificado a estar presentes na Conferência de Imprensa realizada no Café Guarany e que decorreu bem.

Lamentável, todavia, a falta de participação dos "media"...
Pretendia ser uma Conferência de Imprensa séria que abordava temas de interesse nacional...

No dia da Marcha, lá comparecemos nós, algo receosos de como iria decorrer a mesma e, acima de tudo, de qual seria a participação e de como seria a receptividade por parte da população da Invicta.
Apesar do que a Imprensa dita oficial referiu, nuns sítios cerca de 100 pessoas, noutros perto de 300, penso que se conseguiu atingir a fasquia das 500 pessoas.

Mas a Marcha correu muito bem.
De forma digna, alegre, bem disposta e, acima de tudo, responsável.
De forma racional, como seria de esperar.
Postos à cabeça da manifestação, lá fomos repetir o acto que, já há muitos anos, nem eu nem a Maria José repetíamos...

Se o tema da Marcha e o simpático convite exigiam a nossa participação, mais forte foi o motivo da mesma.
O direito a dizer "Amo-te!", não olhando, como é óbvio e natural, a diferenças de sexo, idade, raça, orientação, credo e outras condicionantes que a Sociedade e a Cultura fazem por usar como barreira à felicidade.

À chegada à Avenida dos Aliados vínhamos cansados mas satisfeitos pelo dever cumprido.

Já na tribuna foi para mim uma surpresa quando me pediram para dizer algumas palavras.
Acedi até porque achei que tinha a obrigação de verbalizar algumas das coisas em que pensava no momento.

Pedi/exigi o Direito à Indiferença, muito para além do Direito à Diferença, o Direito à Felicidade. O Direito a dizer "Amo-te!", sem ter que olhar a quem e que chegasse o tempo de não serem necessárias mais marchas de luta contra as diversas formas de exclusão .
Para o ano lá estaremos acreditando, todavia, que a participação será maior, principalmente das ditas "figuras públicas".
A ver vamos...

sexta-feira, 11 de julho de 2008

"SEXUALIDADES, AFECTOS E MÁSCARAS"-42ª emissão


Daqui a aproximadamente 5 horas, mais especificamente à uma hora, irá para o ar, na Porto Canal, mais uma emissão, a 42ª, em directo, do "Sexualidades, Afectos e Máscaras".
O tema será, hoje, o "Transformismo...".
Será uma emissão diferente, com cor, música e movimento.
Será uma outra forma de abordar, uma vez mais, um tema fracturante à Sociedade, mas sempre de forma informal, sem tabus nem pudores, com cariz científico e pedagógico mas, acima de tudo, uma forma informal de ...falar claro!
Assista e participe.
Verá que vale a pena...

3ª MARCHA DO ORGULHO LGBT NO PORTO - 12/7/2008


Na ultima quarta-feira de tarde estive no Café Guarany, acompanhado pela Maria José Guedes, a assistir à conferência de imprensa de apresentação da comissão organizadora da Marcha do Orgulho- 2008.
Tinha sido convidado para ser Padrinho da Marcha e prontamente aceitei.
Não compreendo, ainda, porque é tão difícil, hoje, dizer "Amo-te!", independentemente do sexo, da religião, da raça, da idade, da orientação sexual, entre outros factores.
Luto e continuo a lutar pelo Direito à Felicidade, independentemente dos supostos valores que uma Sociedade e uma Cultura tentam impingir, à luz de uma pretérita Cultura de Máscaras.
Defendo o Direito à Indiferença, muito para além do Direito à Diferença, como força de viver em sociedade.
Luto, tão só e simplesmente, pelo Direito à Felicidade.
Assim sendo apadrinhei a Marcha, irei participar nela amanhã, pelas 15 horas, com saída da Praça da República no Porto e conclusão na Avenida dos Aliados, de forma muito especial por este ano o tema ser a Educação Sexual que eu quero e defendo transversal às diversas faixas etárias, sem hipocrisias, formadora e formada, assim como informada, integrada e integradora.
Fui, ainda, um dos subscritores do Manifesto, abaixo transcrito, por encontrar muitas e muitas coincidências com a minha linha de pensamento até porque, acima de tudo sou e sempre serei, orgulhosamente, um Homem de Afectos.


Manifesto da 3ª Marcha do Orgulho LGBT no Porto



Em Portugal, começamos a dar os primeiros passos numa educação para uma saúde responsável. No entanto, esta educação continua a ter como base um modelo de família que não corresponde às práticas familiares do Portugal do século XXI.

Há cada vez mais crianças educadas por apenas um dos pais biológicos, sozinhos ou em novas uniões. Há cada vez mais crianças educadas por avós, tios, outros familiares, pais adoptivos. Sendo que estes educadores têm diversas orientações sexuais. E estas crianças são felizes. Não há diferenças de desenvolvimento físico, psicológico, emocional e de integração social destas crianças, como demonstrado em estudos com pais "não-biológicos" ou pais do mesmo sexo.

E ainda assim, o Estado português continua a negar esta realidade. Estas Famílias são esquecidas. Estas Mães e estes Pais são esquecidos. Estas Crianças são esquecidas.

É-lhes imposto um modelo standard de família em biologia, em história, em português, na educação para a saúde... Modelo este que não corresponde às suas famílias e às famílias dos seus colegas.

Isto é inaceitável!

É obrigação do Estado implementar em todos os estabelecimentos de ensino uma educação para uma sexualidade saudável. E uma sexualidade saudável não se limita ao velho paradigma "espermatozóide nada, encontra óvulo e 9 meses depois temos um brinde". O ser humano não é só um conjunto de células. É um ser pensante, emocional, social, histórico, que transforma o mundo e a si mesmo.

Só uma educação que considere todas estas vertentes poderá ser a base para adultos felizes, responsáveis e sexualmente saudáveis.

Esta educação tem de ser promovida numa disciplina específica a partir do 2º ciclo que aborde temas tão pertinentes como:

Revelar múltiplas formas de constituição de família;
Desmistificar a bissexualidade, homossexualidade e heterossexualidade;
Fomentar a verdadeira igualdade de oportunidades entre homens e mulheres;
Reconhecer diversas identidades de género, como ser transexual, ser cissexual, ser transgénero e ser cisgénero;
Compreender várias formas de relacionamento, aceitando que alguém pode não ter uma relação, ter relacionamento com uma pessoa, ter uma relação poliamorosa.
Finalmente, promover o planeamento familiar e uma reprodução consciente.

É também importante a formação dos professores, gestores de estabelecimento de ensino, pessoal técnico, entre outros. De igual modo nenhuma criança pode ser excluída desta educação. É ainda essencial que esta educação transponha os limites do estabelecimento escolar e seja activamente divulgada junto da população em geral.

Menos que isto é inaceitável!

Efectivamente, na sociedade portuguesa ainda existem situações de discriminação aos mais variados níveis. A meio de 2008, Portugal continua a não seguir o bom exemplo do Estado espanhol que, já há três anos, estendeu o casamento civil a casais do mesmo sexo. Naturalmente com todos os direitos e deveres inerentes, incluindo a adopção.

O casamento civil não é uma instituição imutável no tempo e no espaço. Em 1976, um marido que chega a casa e abre, sem a autorização, uma carta dirigida à esposa, era mais que uma situação comum, era um direito legalmente reconhecido em Portugal. Se é evidente para todas e todos nós esta alteração, também deve ser claro o reconhecimento legal do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Os direitos de homens e mulheres eram tão diferentes em 1976 como são hoje diferentes os direitos de um casal heterossexual e um casal homossexual.

E isto é inaceitável!

Mas não são só os casais de gays e lésbicas que vêem os seus direitos negados pelo Estado. As pessoas transgéneras continuam a ser tratadas como cidadãs e cidadãos de segunda. O artigo 13º da Constituição Portuguesa bem como o Código de Trabalho renegam a Identidade de Género. Da mesma forma o Código Penal, que reconhece os crimes por motivações religiosas, orientação sexual, racismo e afins, mantêm-se omisso quanto a crimes de transfobia.

Exigimos uma lei de identidade de género que permita a mudança de nome e género legal sem que esteja finalizada a reassignação de sexo. Todo o processo jurídico, médico e legal a que são submetidas as pessoas transexuais terá de ser, necessariamente, mais célere e humano.

Não aceitamos a imposição de "licenças oficiais" por parte da Ordem dos Médicos. Não aceitamos burocracias nem visões distorcidas da transexualidade e do transgenderismo.

Da mesma forma, só visões distorcidas podem servir de pretexto para proibir homens que tiveram sexo com homens de doar sangue em Portugal.

Tudo isto é inaceitável.

Por isso estamos aqui, na Marcha do Orgulho LGBT no Porto, com diferentes idades, diferentes experiências, diferentes géneros, diferentes culturas, diferentes orientações, mas unidos! Porque boa educação é partilhar o direito à felicidade. Porque boa educação é TRATAR os cidadãos e cidadãs de forma igual. Porque boa educação é EDUCAR os cidadãos e cidadãs de forma igual.


Igualdade é essencial, educar é fundamental!

domingo, 6 de julho de 2008

ABANDONADA...


Vinha imerso em preocupações, ocupado com milhares de afazeres, daqueles que nos roubam a capacidade de saborear um qualquer momento único.
Era um homem atarefado...
Atarefado como todos o que o sendo gostam, também, de o parecer.
Sempre a correr contra o tempo que corre e passa.
Sempre a correr, sem tempo para ter tempo.
De repente, parei e, depois, olhei.
Primeiro sem ver, porque era uma pessoa muito ocupada.
Depois, apesar de ser uma pessoa muito ocupada, reparei.
Por fim, apesar de ser uma pessoa muito ocupada, vi-a.
Parada.
Tombada.
Caída.
Esquecida.
Esquecida numa qualquer soleira de uma qualquer porta.
Esquecida do tempo.
Esquecida no tempo.
Esquecida pelo tempo.
Tentei perceber.
Sentia-se que o tempo tinha passado por ela, usando-a, sugando-a e, por fim, a tinha atirado, abandonada, solta, já sem utilidade, para a berma da solidão.
Percebia-se que o tempo que passa, por ela tinha passado, deixando marcas...
Fundas.
Profundas.
Sulcadas.
Rasgadas.
Doridas.
Choradas.
Sofridas.
O olhar, a pele, o corpo, a vida eram baças!
Completamente baças!
Irremediavelmente baças!
Teria tido um passado, certamente, um baú de recordações, um património de afectos...
Não teria, de certeza, futuro...nem, sequer, vontade de o ter.
Mas o mais grave era perceber-se que ela o sentia, mas não se importava...já não se importava.
Estava só, vítima daquele tipo de solidão que só as pessoas sós conhecem e sentem.
Já não se lembrava da última vez em que se tinha sentido gente mas, já nem com isso se importava.
Já não lhe interessavam os corpos, os rostos, as mãos, os nomes que lhe tinham sido, outrora, queridos até porque, já nem sequer existiam.
Talvez já nem deles se lembrasse...
Estava mergulhada no grau mais pesado da solidão...o deserto de afectos!
Estava, apenas, à espera...
À espera de terminar.
Para isso,,, qualquer soleira servia e ali estava, num ali que bem poderia ser acolá ou mais além...nem sequer isso importava.
Tentei imaginar quantas vezes se teria sentido, esta mulher, amada...
Quantas vezes teria sido olhada, esta mulher, com admiração, apreço, afecto?
Quantas vezes se teria sentido, esta mulher, abraçada com paixão, desejo, vibrando com um momento de prazer?
Quantas vezes se teria sentido, esta mulher, beijada, acariciada, possuída?
Quantas vezes teria ouvido, esta mulher, o seu nome proferido por uma boca querida, observada por um olhar cúmplice, atraída por um corpo conhecido e, quiçá, amado?
Quantas vezes se teria sentido, esta mulher, viva?
Junto a ela tinha sido abandonado lixo o que a fazia sentir, ela própria, lixo. Era inevitável, para quem observava, a comparação entre a mulher, viva e o lixo que a rodeava, inerte, neste supremo momento de abandono e solidão.
Mas continuava a ser um ser vivo, tentei argumentar...
Mas esta mulher era, já, uma desistente.
Estava, agora, para ali atirada, abandonada, parada no espaço e no tempo, à espera de deixar de ser...um ser vivo.
Distraidamente, mas com revolta, porque era um homem atarefado, limpei uma lágrima que teimava em cair, queimando-me o rosto e afastei-me, primeiro devagar, depois mais rápido e, por fim, a correr, quase fugindo.
Fugia de um fantasma...
Fugia, aterrado com a hipótese de, um outro dia qualquer, aquela mesma soleira ser, de novo, ocupada, já não por aquela mulher mas, desta vez, por um homem...eu!
Manuel Damas in "O Primeiro de Janeiro" a 6/5/2008

sábado, 5 de julho de 2008