QUANTO CUSTA UM SORRISO?

Quanto custa um sorriso?
“O quê?”, interrogar-se-á quem me lê.
Eu repito e, se necessário for, de forma mais lenta e mais sonora para ser perceptível...
“Quanto custa um sorriso?”
Quanto custa o sorriso de uma Menina, de esperança cheio, lindo, cantado e cantarolado, confiante porque inocente, ritmado, quase bailado?
Quanto custa o sorriso de um Menino, campeão de guerras infantis infindas, disposto a lutar contra todos os dragões de uma existência que ainda não descortina mas que já sabe, por antecipação, serem ferozes mas que, sente e pensa, ser capaz de derrubar, infames porque existentes?
Quanto custa o sorriso de uma Rapariga que, do alto de uma vintena de anos, desfila pelas ruas de uma vida, ainda sem agruras, porque jovem, crente no sucesso, na amizade, no amor, na felicidade, capaz de dar e receber?
Quanto custa o sorriso de um Rapaz, pleno de confiança, com um futuro pela frente, acreditando que não há impossíveis nem inatingíveis, inundado de esperança no Mundo e no Devir, pleno de coragem e bem-querer?
Quanto custa o sorriso de uma Mulher, competente nas funções que exerce, a melhorar cada vez mais, por opção mas por devoção também, com um horizonte pela frente sem fim, capaz de sonhar e fazer sonhar, capaz de estimular, acompanhar, acarinhar, procriar?

Quanto custa o sorriso de um Homem, profissional competente, capaz de se achar capaz de encontrar as soluções para todos os problemas, disposto a arcar com dificuldades mas também a avançar, com fé em si e nos outros, esperançado no Mundo, enfim?
Quanto custa o sorriso de uma Mãe, preocupada por o ser e porque é, delicada na essência, vaidosa da sua cria, protectora por devoção, carinhosa por opção, expectante em relação ao ser que fez ver a luz do dia, alegria dos seus olhos, sabor da sua pele, orgulho de uma existência que ainda não floriu mas que, em potencialidade, a ela lhe permite já sonhar sem limites nem fim, sem mácula nem pecado, fruto de amor, por amor e com amor?
Quanto custa o sorriso de um Pai, presente e protector, sem no entanto ter aprendido ou sido ensinado a sê-lo, porque a sociedade não tem tempo para ensinar quem não nasceu ensinado, mas já motivado para as diligências e responsabilidades de uma existência que se acredita nuclear, vindoura e profícua? Quanto custa o sorriso de uma Idosa que, olhando para trás sorri, por todo um passado de que vislumbra e recorda cada hora, cada minuto, cada segundo, de dor, de felicidade, de paz, de amor, de prazer e sorri, olhando em frente, ainda convicta que está tudo ou quase tudo para fazer, mas também serena pelo muito já feito?
Quanto custa o sorriso de um Idoso que, dever cumprido mas ainda tantos outros deveres por e para cumprir, se sente glorioso por ter deixado de ser uma promessa e se ter conseguido transfigurar num conjunto sério de realidades conseguidas com esforço mas, acima de tudo, conseguidas?
Quanto custa o teu sorriso que me apoia, me acarinha, me desafia com o olhar mas me escuta, me compreende, me diz que estás presente, porque queres e gostas e porque estás estando, por opção sentida, reflectida e consentida, porque activa e assertiva e não porque foste ficando?
Quanto custa?
Quanto?
Nada?
Então...
Então...vamos fazer de conta que hoje é o Dia do Sorriso!

Manuel Damas in "O Primeiro de Janeiro" a 18-11-2007