quarta-feira, 25 de junho de 2008
"GRAVIDEZ E SEXUALIDADE"
Dizem que é a fase em que a Mulher se encontra mais bela.
Posso, até, concordar desde que não estejam subjacentes conceitos e preconceitos que uma Sociedade e uma Cultura se esforçam por propagandear, estimuladas por uma Igreja que se mantém, teimosamente ancestral e afastada da realidade. Uma mesma Igreja que gostaria de poder e conseguir voltar a uma época característica, com uma unidade familiar obsoleta, presa a valores ultrapassados, que voltariam a colocar a Mulher no centro de uma suposta entidade social e familiar, uma pretensa Fada do Lar, sempre disponível, atenta e preocupada, conselheira e protectora, dócil, doce e frágil, de tez ebúrnea e alvas vestes, amante fiel do seu Homem, a quem merece obediência e respeito acima de tudo, quase santificada e deiificada, detentora do poder sagrado da maternidade, verdadeira reprodução de Maria na Terra.
Mas a este quadro da época do romantismo falta uma peça incontornável...
Falo da Mulher grávida, aquela que muitos consideram detentora do mais alto estado de graça, o da maternidade.
A tudo isto contrapõe-se o peso pesado do silêncio daquilo que não se fala.
Uma realidade científica inabalável e destruidora de todos estes estereótipos.
A Sexualidade da mulher grávida...e o seu natural e implícito direito ao prazer.
Falo do direito ao prazer que a mulher grávida detém, ainda que seja este um tema quase proibido, quiçá profano, que um conservadorismo sócio-cultural impede de referir e abordar mas, acima de tudo, de assumir com naturalidade.
Atente-se à raridade incompreensível mas gritante com que este tema é abordado em Congressos e Conferências.
Mas o suposto problema é que esta é uma realidade, incontornável.
O direito ao prazer da mulher grávida.
E isto é uma verdade científica.
A mulher grávida sente e tem desejo, de forma explícita. Um desejo sentido mas calado, receoso de ser evidente porque oficialmente considerado como depravado...acima de tudo, um tabu.
Mas esta realidade tem uma concreta justificação. Por causa do seu estado gravídico a mulher apresenta alterações hormonais, uma verdadeira “storm” hormonal, inclusive das hormonas sexuais. Esta realidade anatomo-fisiológica impõe alterações estruturais que vão evoluindo ao longo do processo gravídico mas estão também presentes alterações psicológicas, de sensibilidade táctil, de enervação, de vascularização, de estabilidade física e mental.
À medida que a gravidez decorre, e pela sua própria circunstância, observa-se uma maior intumescência dos tecidos e das estruturas, com especial incidência para a genitália e para o tecido mamário, alimentadas por uma maior vascularização e sensibilização assim como por um maior estímulo hormonal. Deste modo, a mulher torna-se mais sensível fisicamente. Mas também mais carente afectiva e sexualmente. E, também, mais exposta aos estímulos até porque, na presente realidade circunstancial, já não tem razão de ser um suposto receio de uma gravidez pretensamente indesejada até porque a circunstância se encontra, já, consumada. Na posse destas alterações, sérias e consistentes, da sua própria anatomo-fisiologia a mulher grávida vê o seu desejo sexual crescer, também fruto de uma maior sensibilidade, de um gradiente hormonal mais elevado mas, acima de tudo, de um maior desejo.
Não são poucos os casos em que uma mulher cujo comportamento sexual, versus desempenho, se situava dentro dos índices de uma suposta normalidade, passa a apresentar-se, fruto da sua situação, mais sensível aos estímulos sexuais, podendo tornar-se, com toda a naturalidade, pluri-orgásmica ou multi-orgásmica.
E esta é uma realidade incontornável.
O desejo, e acima de tudo o direito ao prazer, porque real, na mullher grávida tem que ser assumido, compreendido, explicado e justificado com naturalidade, com tranquilidade, com dignidade até porque...não se trata de uma falta, de um pecado ou de um desvario, mas tão só e apenas de uma evidência que tem que ser acarinhada e compreendida...
A Mulher merece-o e a Modernidade exige-o!
Manuel Damas in "O Primeiro de Janeiro" a 25/6/2008
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16 comentários:
Sempre frontal, lúcido e de uma clareza de ideias espantosa. Areja mentalidades, chama à actualidade problemas prementes e tão longe de serem resolvidos.
Pega nos problemas das minorias e daqueles que ainda se encontram fragilizados por esta sociedade de Valores Distorcidos. Pelo apoio que dá( a nós mulheres, mas não só), o meu muito obrigada...e um excelente resto de semana. Beijos :) Parabéns pelo artigo.
Pois é!
Abraço.
Olha o Pestanudo (FM) a dizer pois é... ahhhh pois é hahahaha, mau era se não fosse ...
Excelente Professor, quando é que fazemos uma manif para mudar os horários, hein???
Beijossssssssss
Neste aspecto, penso que os homens são mais ignorantes e preconceituosos.
Beijinhos
Bem...
Babei!
Obrigado pela minha querida nav por todos os elogios e pelos votos de boa semana.
Um beijinho grande.
Abracinhos, FM...
:)))))))))))))
Depois das férias, olazinha..
E eu concordo um pouco, CC.
Um belíssimo post, claro.
Tenho uma miga cujo marido recusava ter relações durante a gravidez, porque tinha medo de magoar o bébé.
Ai, ai...
Veludinhos e cetins
Pois...
Um beijinho grande, blue.
Olá Professor, leio todos os seus posts com muito interesse! São todos bastante pertinentes e importantes! Este particularmente deu-me vontade de comentar. Primeiro porque sou mulher e concordo em absoluto com o que escreveu, segundo porque acho que se devia falar mais de certos assuntos relacionados com o sexo na gravidez! Acho que muita coisa está por esclarecer e eu, que ainda não sou mãe mas tenho imensa vontade de ser, sinto-me particularmente interessada por esses assuntos! Acrescento só mais uma coisa, enquanto se sentir confortável para tal o sexo na gravidez é necessário!
:) Beijinho grande com saudades até sábado se Deus quiser!
Um beijinho grande lia e até sábado.
:o)))
A Internet é mesmo algo absolutamente fantástico, pelo simples facto de podermos aceder a artigos tão lúcidos quanto este...
Obrigada!!!
:o)))***
Eu é que agradeço, Pearl. Um beijinho grande
Já passaram 85 anos desde o 1º Congresso Feminista realizado em Portugal, desde então conseguiram as mulheres já grandes progressos na esfera social e pública, como o acesso á educação, a viajar, a trabalhar fora de casa...enfim :))))
Mas ainda há quem pergunte se faz sentido existirem lutas pelos direitos das mulheres...CLARO QUE SIM! Na esfera pública e social, muita coisa já foi feita...mas na esfera da intimidade muita há ainda por fazer e se já existe a despenalização do aborto...é preciso também despenalizar certos preconceitos e ideais ancestrais.
Obrigada Professor por o seu contributo.
Obrigado pelas palavras amigas Jeanette.
Um beijinho grande e bom fim de semana.
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