segunda-feira, 9 de junho de 2008

"ONDE PÁRA A PALAVRA OBRIGADO?"


Onde pára a palavra “Obrigado”?
Para onde foi atirada, arrumada, esquecida?
Onde foi deixada, qual usada boneca de trapos, de tão estragada que tem sido, injustiçada, vilipendiada e a correr risco sério de cair em desuso?
Parece ter chegado uma nova forma de barbárie social com a modernidade, a mesma que trouxe a fast food , a internet, as sms, mms e todas as outras siglas identificadoras das mais dispares formas de comunicação...
Chamar-lhe-ia guturalidade de comportamentos.
Parecemos ser, cada vez mais, os novos bárbaros!
E esta forma de comportamento-descomportamentado, é também ilustrada, vivenciada e repetida pelos novos ícons da modernidade, inclusive pelos protagonistas da actualidade musical ... parece haver cada vez mais orgulho utópico em mostrar e demonstrar, quase até à exaustão, que terminou a elegância de comportamento em palco. Assemelham-se a fantasmas de uma realidade própria, espantalhos de uma actualidade oca, impreparados para lidar com a fama e gerir a janela de glória que se abre à sua disposição. Veja-se, a este propósito, o mais recente concerto de Amy Winehouse no “Rock in Rio 2008”, exemplo soberano de uma total ausência de civilidade, de saber ser e estar, de educação, de cidadania e, acima de tudo, de saber coexistir e conviver em sociedade. Pena é que estes ícons não se consigam aperceber, do alto da sua enorme vacuidade, que são verdadeiros lideres de opinião, exemplos a seguir por milhões de adolescentes e jovens que fazem seus os comportamentos e gestualidades exibidos por estes gurus da hodiernidade e, como tal, detentores de um enorme potencial para criar, construir, alterar ou destruir estratégias de comportamento.
Qualquer ídolo sabe, espero, que todos os seus trejeitos e comportamentos, verbais ou não, são imediatamente copiados à exaustão, à escala planetária.
Mas recuperemos o fio condutor...
Queixo-me do desleixo no uso da palavra “Obrigado!”
Mais do que saber viver é fundamental saber conviver em sociedade ou seja, “saber viver com”, utilizando a origem etimológica ...
Há três anos que escrevo esta crónica e não necessito de argumentar que não detenho uma forma de pensar conservadora, antiga, ancestral ou mesmo desadequada à vida actual.
Bem pelo contrário!
Precisamente também por isso me custa a adaptar a estas supostas novas estratégias comportamentais de interagir entre os pares, de um modo que considero estranho e obsoleto, para não dizer primário e selvagem.
Não sou assim!
Não foi assim que fui ensinado e criado!
Não será assim que me irei aculturar!
Recuso terminantemente!
Continuo a achar e a defender que as normas de educação, de civilidade, de cidadania, são adequadas a qualquer cenário e contexto.
Assim sendo pratico-as mas penso, também, ter o direito a ser tratado de idêntica forma, a receber igual feedback.
Aliás, muito para além do direito, exijo-o!
Fui ensinado, em toda e qualquer circunstância a ser educado e, acima de tudo, a respeitar para ser respeitado e, especificamente no contexto a que me refiro no momento, a agradecer, sempre que recebo alguma atenção ou um qualquer outro acto de cortesia.
Penso ser ancestral mas adequada e correcta esta linha de comportamento.
Até entre os animais existe um determinado grau de respeito, um código de comportamento, ainda que não idêntico ao que usamos em sociedade. Mas essa é, também, uma marca da nossa diferença e superioridade, uma evidência da nossa própria identidade.
No dito animal-homem existem fórmulas práticas e banais de cordialidade, quais passwords, como sejam o “Bom dia”, o “Boa tarde” ou o “Boa noite”, o “Como se sente?”, o “Desculpe” e, acima de tudo e de todas, o “Obrigado” .
Assim sendo, considero cada vez mais estranho e rejeito que a palavra “Obrigado” tenha tendência a cair nas teias do esquecimento e corra o risco de se tornar um referencial em desuso.
Quando cedo passagem a alguém, quando ofereço o meu lugar a outra pessoa, quando dou a primazia na estrada, nestes e em outros contextos, fico à espera e tenho direito a um agradecimento, à emissão de uma qualquer forma de reconhecimento.
Aliás, creio ser um dever de quem foi alvo da minha atenção e delicadeza.
Considero serem normas mínimas de cordialidade, princípios de conduta, regras de vida em sociedade...aquilo a que os psicólogos também designam, pomposamente por “estratégias de comportamento para lidar com as situações”
Até porque, somos animais racionais!
E o saber estar, viver e conviver, coexistir e, acima de tudo, sobreviver, nomeadamente em sociedade tem que passar, também, por este tipo de pequenos nadas que representam, acima de qualquer coisa, grandes tudos e marcam a diferença.
Precisamente por isso faço questão de continuar a dizer e a ouvir a palavra “Obrigado”!
Manuel Damas in "O Primeiro de Janeiro" a 31/5/2008

8 comentários:

FM disse...

É a palavra que mais uso... e sempre com imenso prazer. Há que agradecer sempre, mesmo quando o Obrigado de muitos seja uma forma de "Ponte entre o isto e aquilo e não um Abraço de Agradecimento sincero".

Manuel Damas disse...

As pontes também se abatem...
:))))))))))))))))

BlueVelvet disse...

Tem toda a razão: por favor, obrigada e desculpe.
Ou não sabem ou tomaram pouco chá em pequeninos...
Cetins azuis

Sandra T disse...

Mas... é assim que as pessoas se distinguem, neste mundo de máscaras, apesar de tudo, é nestas pequenas coisas que se classificam (ou qualificam?).

Manuel Damas disse...

Cetim azul meia-noite?
Adoro...

Manuel Damas disse...

Classificam e qualificam Sandra.

LeniB disse...

Também fui educada a dizer obrigada, se faz favor e outras tantas.
Agradeço aos meus pais por mas terem ensinado desde tenra idade.
Sempre que um aluno me entrega seja o que for eu digo "obrigada", para espanto de muitos.
O que não se aprende em casa, pode-se sempre aprender na escola!!
bjs

Manuel Damas disse...

Minha querida lenib...a escola é local de informação e também de formação.
Um beijo grande.