quarta-feira, 5 de novembro de 2008

"WE CAN!..."




Tenho vindo a acompanhar, atenta e detalhadamente, a campanha eleitoral para as eleições presidenciais norte-americanas, analisando o decurso das eleições primárias. Independentemente do resultado final, e de quais forem os candidatos que se apresentem ao acto eleitoral, pelos dois principais blocos, Democrata e Republicano, nada ficará como antes na América.
Para todos os efeitos, este constituirá um case study e ficará registado nas páginas da História Americana, como o ano da viragem...
A partir daqui, tudo será diferente.
Tudo passará ser possível.
E tudo isto porquê?
Tão só e apenas pelo facto de a estas eleições se apresentarem, com consistentes possibilidades de vitória, com reais probabilidades de sucesso e não como meros dados estatísticos, candidatos estranhos ao regime, alternativos ao sistema, em nada consentâneos com o perfil habitual dos candidatos às eleições presidenciais americanas.
Uma mulher e um afro-americano do lado Democrata.
O mais velho candidato de sempre do lado Republicano.
Assim, temos um cenário original, com os actores principais a desempenharem papeis que não os habituais, que não os formais, que não os tradicionais.
Se do lado Republicano, dos Estados Unidos Vermelhos, do Elefante, enquanto imagem iconográfica, a corrida parece pacífica para John McCain, o velho Senador de 71 anos do Arizona, que recentemente assistiu à desistência a seu favor do seu mais directo rival, Mitt Romney, mantendo-se convenientemente ainda em corrida Mike Auckabee, ex-governador do Arkansas, de 53 anos, que assegura, assim, que a corrida mantenha ainda, um aspecto convincente, do lado oposto o cenário não surge tão linear.
Do lado Democrata, dos Estados Unidos Azuis, do Burro, enquanto imagem iconográfica, as coisas não parecem estar nada pacificadas, nada facilitadas, nada previamente delineadas. O número mágico dos 2025 delegados que garante a nomeação presidencial na Convenção Nacional de Denver do Partido Democrata, em Agosto, não está definido ou conquistado para qualquer um dos lados em contenda. Arriscar um prognóstico, num momento em que nada parece estar definido ou garantido, poderá ser um mero exercício de retórica, um devaneio inconsistente e inconsequente .
Por um lado apresenta-se Hillary Clinton, de 60 anos, mulher do antigo Presidente dos EUA Bill Clinton, e actual Senadora por Nova Iorque. É a “Ice Woman”, que sobreviveu ao escândalo sexual de Bill Clinton. É a mulher que se sentiu na obrigação de conseguir deixar escapar umas lágrimas em frente às câmaras de televisão, para tentar rebater a imagem de insensibilidade, quando confrontada com os desagradáveis e inesperados resultados atingidos na votação inaugural do Iowa. Assim surge esta mulher que tenta capitalizar os 8 anos de vida passados na Casa Branca, declarando “Tentarei ser Presidente desde o primeiro dia”. Com Hillary, por momentos, fica-se na boca com o sabor amargo de uma tentativa, quiçá inglória, de ajuste de contas com o passado, de “rèvanche” da história recente americana...Para avinagrar a questão apetece perguntar se o escândalo sexual aconteceu por culpa de Hillary ou apesar dela. Sem querer avançar para uma análise do perfil psicológico da Senadora resta-me questionar sobre qual o futuro da ex Primeira Dama depois de tudo isto...
Será Hillary o início do fim do poder político masculino americano?
A ver vamos...
Por outro lado surge Barack Obama, o Senador de 46 anos do Illinois, inseparável da mulher Michelle Obama, aquele a quem já muitos chamam o JFK negro, e que não se cansa de proclamar “ O nosso tempo chegou!” Ocorre-me, agora, perguntar...Estarão criadas as condições para o nascimento de uma Obamamania? Com efeito, cada vez mais, a nível mundial, com a falta de referenciais consistentes e de lideranças responsáveis e efectivas, as populações evidenciam um deserto na ligação ao poder, tornando-se activos e passivos intervenientes na construção de ícons.
E os EUA não constituem excepção, bem pelo contrário!
Ao espírito de empreendedorismo americano já fazia falta um mito, um líder que apaixonasse multidões. Há muito que não o tinha, especificamente desde o assassinato de Kennedy e a tentativa frustrada de Reagan.
Será Obama o próximo grande líder americano?
Aparentemente parece ter reunido todas as condições para que, conseguindo sair de Denver vitorioso, avance para uma conquista triunfal da Casa Branca.
Apresenta uma figura simpática, deixando antever uma força de tenaz aveludada. Alia um agradável aspecto juvenil e “clean”, a que não falta um sorriso aberto e aparentemente franco, a um ar moderno e não é necessário negá-lo, mas antes assumi-lo com frontalidade, a uma extraordinariamente conveniente cor de pele que não é dispicienda.
Constrói e vende a imagem do afro-americano moderno e de sucesso, que conseguiu!
Esta imagem permite acreditar...
Gera Afectos...
Ressuscita Martin Luther King e a lendária “I have a dream...”
A tudo isto acresce um discurso consistente, sem demasiada condescendência, um outro ajuste de contas com o passado, exigente da conquista de uma oportunidade, mais do que tardia.
Com o slogan que nasceu e rapidamente se generalizou “Yes, we can!”, está acrescentado o ingrediente que faltava à receita milagrosa...a esperança renascida, qual fénix, de conseguir conquistar, ao fim de tanto tempo, o sonho tão almejado...
Um Presidente Negro!
E esta nova esperança ganha adeptos, cria paixões, provoca lágrimas, move multidões, faz renascer o sonho...Mas é conveniente todavia alertar que também gera ódios, por vezes muito violentos e o espírito do Ku-Klux-Klan não parece estar morto...apenas adormecido.
Ultrapassando, pelo menos para já, esta nota de rodapé, parecem estar criadas as condições para a criação de uma Obamamania.
Eu, se fosse americano, diria também...
“Yes, we can!”
Como sou português, uma vez mais, nada digo.
Até quando?
Manuel Damas in "O Primeiro de Janeiro" a 17/2/2008

A 17 de Fevereiro de 2008, publiquei esta crónica, acerca das eleições americanas.
Hoje, conhecida a maioria dos resultados, é com enorme prazer que escrevo sobre a eleição de Barack Obama como 44º Presidente dos EUA, 145 anos após o fim da escravatura na América.
Mas esta vitória não se reduz a uma questão nominal.
Surge acompanhada de uma vitória expressiva em termos de super delegados eleitos, uma vitória alargada em votos populares, uma vitória nítida no Senado e uma vitória expressiva na Câmara dos Representantes.
Ou seja, Obama vence em todos os tabuleiros, conseguindo atrair às urnas um significativo número de votantes que, em outras circunstâncias, se manteriam alheios ao acto eleitoral...refiro-me especialmente aos jovens e aos afro-americanos.
Gente que se sentiu motivada, que se sentiu arrebatada, gente que sentiu que desta vez poderia ser possível...
Com esta eleição, do primeiro afro-americano como Presidente dos EUA, surge uma lufada de ar fresco na política americana, tão abalada pela recente crise económica e uma onda de esperança que já alastra aos outros Continentes, com óbvia repercussão a nível das bolsas financeiras mundiais.
Hoje, mais do que nunca, ressuscitam as palavras de Matin Luther King quando, de forma inflamada dizia...
"I have a dream"!
Hoje, mais do que nunca, relembro a frase chave da campanha de Barack Obama...
"Yes, we can!"

19 comentários:

Casemiro dos Plásticos disse...

Pois é professor, agora basta esperar para ver o que dá.
Parece que na Am,érica há gente inteligente...
abraço

Waldorf disse...

Damas,
Não posso comentar porque não estou cá!

Fui a Cuba tratar das cataratas do Niagara!

Haja uma enxurrada que me leve de água abaixo!

Waldorf disse...

E para não dizeres que eu ando com azia e mal disposto toma lá um abraço apertado aqui do velho!

Waldorf disse...

Oh! Damas, tens cá...


... uma enfermeira boazuda?

Manuel Damas disse...

Um grande abraço Caseiro e um resto de boa semana!

Manuel Damas disse...

naoWaldorf..
O único bonzudo aqui mesmo sou eu...e não sou enfermeiro...

Waldorf disse...

Precisava mesmo de uma enfermeira para me dar a injecção!

Waldorf disse...

Estão 3 online mas estão mudos!

Um sou eu!

A vocês, os outros dois que estão aí: - Falem! Não se inibam !

Bah!!!

Manuel Damas disse...

Neste blog também há quem goste de entrar em silêncio...É uma questão de opção!
:)))

Waldorf disse...

Eu cá optava por fazer dieta, mas não me deixam!

Manuel Damas disse...

Quanto à dieta, eu concordo em pleno que deve fazer...
Pela foto essa pele está uma desgraça!!!
Descolorida, enrugada, gasta...
:))))))))))))))))))))))))))))))))))

BlueVelvet disse...

Eu é mais "Yes, They Can"
Nós??? Humpf!
Beijinhos

Manuel Damas disse...

Um beijo grande "bluezinha"...

Waldorf disse...

Estou aflito!

I Can't... e até tomei Viagra e tudo!

Bah...

Manuel Damas disse...

Yes, you can!!!
:)))))))))))))))))))))))))))

Waldorf disse...

Dizes tu que és um sortudo e não precisas de usar talas!

Bah!

Manuel Damas disse...

O que é a sorte dos dias de hoje, meu caro Waldorf?
Conseguir sobreviver?
Duhhhhhhhhhhhhh

Waldorf disse...

Sorte é acordar!

Hoje tive sorte, ACORDEI!

Manuel Damas disse...

E acordaste a umas ricas horas...