terça-feira, 24 de março de 2009

COMO MACACO NUMA JAULA...


Hoje senti-me um verdadeiro macaco numa jaula.
Andava eu num Centro Comercial conhecido da cidade e apeteceu-me fumar um cigarro!
Pois...
Que isto dos vícios, ainda por cima daqueles que teoricamente matam, também doi e faz sentir a necessidade nos locais, nos momentos e nos ambientes mais estranhos.
Mas eu, que até me considero um homem bem informado, sabia de antemão que os Centros Comerciais, receosos de afastarem os consumidores/clientes, tinham contornado a Lei, estruturando locais próprios para o consumo, com alguma comodidade.
Como tal, eis-me a procurar o dito local...
E como "quem tem boca vai a Roma", vox populi dixit, lá almejei descobrir o local onde seria possível a concretização e satisfação do meu hábito tabágico.
Sim que eu apenas fumo cigarros e nada mais...isto, obviamente, no âmbito das minhas dependências farmacológicas.
Bem, mas continuemos porque isto de escrever em português e para portugueses tem muito que se lhe diga e eu, quando sinto a veia pulsante, a da escrita, obviamente, dou corda à coisa e com dificuldade me consigo focalizar e manter seguindo aquilo a que o outro, pomposamente, chamou "fio condutor"...
Descobri um recanto, algo evidente, diga-se, e foi ufano que conclui não ser o único depravado neste mundo de realidades virtuais todas sempre correctas e inofensivas, isto dito em abono da verdade, digo falsidade, digo do politicamente correcto.
Bem...
Lá voltei eu a tergiversar...
Mas continuemos.
Lá entrei no dito espaço e ufano fiquei, como dizia acima, por não ser o único viciado em satisfação da sua necessidade também fisiológica, que não as outras bem mais imperiosas e algumas bem mais pecaminosas.
Lá entrei e acendi o cigarrito, vector do meu prazer.
Será conveniente informar que fumo marca estrangeira, como bom português, mas com um grau de nicotina bem fraco para a maioria dos comuns mortais...Mais especificamente 4 mg de Alcatrão, 0,4 mg de Nicotina e 5 mg de Monóxido de Carbono.
Chinês, dir-me-ão.
Pois.
Mas eu que sou Médico e não Licenciado em Medicina, que tem diferenças e muitas, sei da arte e posso dizer-vos que não é muito...é quase nada, mesmo.
Ok!
Eu sei que mata!
E também já sei que mata, de forma directa ou indirecta.
Mas também sei que todos temos de morrer, de uma forma ou de outra e ninguém, por mais sadio e escorreito que tenha sido na sua vida pregressa ficou cá para contar...que conste!
Bem...
Mas continuemos que isto de estar feliz é perigoso e apetece estar aqui a escrevinhar, dito digitar modernamente, infinitamente.
Pois estava eu, com mais meia dúzia de companheiros e companheiras e até, quiça, companheir@s de vício, quando me comecei a sentir estranho...
Não é que muitos portugas passavam e olhavam e alguns desdenhavam, do alto da suma importânia de não fumadores, ainda que antigos ou recentes?!
Ok...não chegaram a apontar com a unhaca negra e um esgar desdentado e barba por fazer...mas pouco faltou!
Senti-me olhado...não da forma apreciativa que faz bem à auto-estima mas daquela que deita abaixo qualquer idolatria narcisista que venhamos alimentado.
Senti-me exposto em Praça Pública, quase desnudo e, acima de tudo, gozado e vilipendiado.
Senti, então sim, a sensação que sente o macaco na jaula...quiça pior porque o macaco, que se saiba, não pensa assim tanto como se supõe...
Mas que gaita!
Eu até pago os meus impostos!
Não sou cidadão de segunda e muito menos de terceira.
Até faço, pela Humanidade, muito mais do que outros fariam.
Sim, porque isto de ser Médico e Professor Universitário, aturando as criancinhas filhas de outros, que não minhas, nem sempre é fácil até porque as ditas criancinhas nem sempre são as mais bem educadas ou as mais civilizadas.
E ainda por cima Sexólogo...ou seja, aquele tipo que tenta ensinar a dar e a ter prazer aos outros, que não em próprio proveito...
Ainda por cima também o faço em televisão o que me expõe bem mais do que aos outros vulgares mortais...
Assim sendo, porque me senti, no momento, desprezado, insultado, vilipendiado, olhado com desdém, com uma sobranceria ridícula e mesquinha, típica de português?
Mas nem me posso queixar muito...
Ninguém me atirou amendoins, nem sequer moedas para me fazerem tocar qualquer sineta virtual.
Nem sequer uma bananita, para acompanhar o cigarrito
Mas será que qualquer dia virão trazer criancinhas ranhosas e chorosas para verem aqueles "animais" que fumam, qual visão dantesca?
Virei a ser o papão, o monstro, não das bolachas mas dos cigarros?
Recuso!
Formal e veementemente!
Não roubei!
Não matei!
Não assediei!
Apenas fumo...e apenas cigarros!
Maldita seja esta maneira tão mesquinha de ser português...

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