domingo, 14 de junho de 2009

MARROCOS


Regressados a Portugal, aqui ficam algumas reflexões pessoais sobre Marrocos.
E as reflexões serão sobre Marrocos porque não ficámos sitiados em Marraquexe, mas visitámos algumas cidades emblemáticas, nomeadamente Ouarzazate que é considerada a cidade porta para o deserto e Ezaouira que é uma cidade do litoral, marinha.
Assim sendo, tivemos possibilidade de observar, detalhadamente, a vida na grande cidade, na montanha e na praia.
Marrocos é um país quente e seco em que o elemento predominante é a areia. Enquanto visitámos o país, várias vezes fomos confrontados com temperaturas da ordem dos 40 graus e uma vez 50º.
É uma monarquia, com um soberano todo poderoso e um Governo que apresenta de estrutura um Primeiro-Ministro e sete Ministros apenas.
Ainda que haja a noção, no Ocidente, que Marrocos é uma Democracia capitaneada por um soberano moderno e ocidentalizado, preocupado com a instauração da Democracia e o desenvolvimento da sua população, a questão não é tão linear nem tão transparente quanto isso.
Basta dizer, a título de exemplo, que o ordenado médio do marroquino orça os 180-200 euros mensais mas que, em contrapartida o Rei aufere um ordenado mensal de cerca de 7 mil euros, e os ministros cerca de 5 mil euros.
A este vencimento acresce, para além de outros benefícios, o facto do Rei e os seus Ministros, em cada deslocação que façam quer internamente, quer ao estrangeiro ganham, ainda, um subsídio de 1000 euros ao quilómetro.
E o Rei nunca se desloca sozinho, mas sempre acompanhado, obrigatoriamente, pelos seus Ministros.
A acrescentar que, em todas as cidades, o Rei tem o "seu" Palácio Real, de residência oficial.
AS melhores coutadas, os melhores jardins, os melhores pomares...habitualmente estão encerrados ao acesso público, porque são propriedade do Rei...
Não existe regime de Segurança Social. Caso o marroquino necessite de qualquer tipo de apoio social, se tiver dinheiro paga...se não tiver, fica sem o referido apoio.
A população é pobre, nitidamente, mas triste e desiludida com a sua pobreza.
Convém dizer que estivemos em Marrocos durante o período eleitoral e mesmo durante o dia das eleições.
A todas as pessoas que questionei, a resposta que obtive foi "Não fui votar...Não tinha tempo!"
Achei de particular peso o facto das crianças na rua, maioritarimente, em vez de pedirem dirahms, a moeda nacional, pedirem esferográficas...conta-me o guia que nos acompanhou na estadia, que pedem esferográficas para poderem ir à escola...
Esferográficas e não dinheiro ou pão...
Mais estranho ainda me pareceu que no dia das eleições, a meio do acto eleitoral, estando nós numa piscina privada de elevada qualidade chamada "Nikki Beach", já lá estivesse um candidato e a sua respectiva comitiva, a festejar a sua própria vitória...
Relembro que as urnas ainda estavam abertas e a votação ainda se encontrava bem longe de terminar...
Ia o acto eleitoral a meio...
Perguntando ao guia se a população amava o rei a resposta que obtive foi...
"Sim. A população ama o Rei...porque tem que amar... Não há outra escolha...A tortura e a pena de morte existem!"
Fico com a noção que se trata de uma população sofrida, mas resignada, desiludida, que se demitiu de sonhar...
Fundamentalmente a população marroquina sobrevive e vive do turismo.
Os hotéis são magníficos e as gentes que neles trabalham fazem da simpatia o seu "modus operandi".
Na realidade os equipamentos que pude apreciar são dos melhores a nível mundial.
A temperatura exterior, nesta altura do ano, é muito quente.
Chegámos a ter temperaturas de 50º ao sol...
Para além do turismo, que é a sua maior riqueza, o país vive de outros recursos naturais.
São criadores de animais, com especial incidência para as ovelhas e todo o tipo de artesanato com elas relacionado, como o vestuário. Os trajes marroquinos são de uma beleza e de uma cor que parece faltar aos olhos da população.
Parecem transpôr para os tecidos a alegria e a cor que os seus próprios olhos já não conseguem retractar ou exibir.
Ainda dos animais extraem o leite com que produzem os lacticínios derivados, mas também as peles e o couro com que produzem os mais diversos e característicos produtos manufacturados.
Depois, é um grande produtor de azeite, tendo extensos olivais.
Com o azeite e com os diversos tipos de óleos que extrai em cooperativas femininas, criam os óleos cosméticos, utilizados nas massagens e os óleos alimentares.
Mas é também produtor de laranjas, com laranjais bordeando as estradas.
Também dos animais utilizam os produtos com que fazem os diversos tipos de tapetes tão em voga no país e no estrangeiro.
É, também, um extractor de minerais e de fósseis, que a população vende nos passeios das estradas que conduzem à montanha.
É, ainda, um país com tradições nos objectos em prata assim como nas joias.
Mas, fundamentalmente a população marroquina sobrevive e vive do turismo.
E o turismo é a prioridade nacional.
O marroquino que vende, gosta de regatear os preços, muitas vezes inflacionados e considera uma injúria o cliente não discutir o preço dos bens.
A língua oficial é o francês, associado ao árabe.
Nota-se uma enorme discrepância social...A classe alta, muito rica, exibindo luxuosos palácios e a classe baixa, que passa fome e sofre as mais diversificadas carências.
A construção pulula pelas grandes cidades, quer em hoteis, quer em apartamentos de qualidade.
A gastronomia é de qualidade, com especial incidência para os pratos de carne, maioritariamente de carneiro.
Os doces são ricos e pesados assim como os vinhos se demonstram encorpados e fortes.
É um país de cheiros, de especiarias que enxameiam o ar.
Por várias vezes foi-me proposta, à luz do dia e com algum desassombro a venda de substâncias ilícitas como o haxixe e o ópio.
Verifica-se uma tentativa de melhoria das estruturas sanitárias e rodoviárias mas que tem, ainda, um largo caminho a percorrer.
Apesar de tudo e mesmo por tudo isto, Marrocos é um país que aconselho a visitar.

2 comentários:

Gundemarus disse...

Caro amigo,
ë bom ter-te de volta.
Apenas uma reflexao a modo de pergunta:
"Por várias vezes foi-me proposta, à luz do dia e com algum desassombro a venda de substâncias ilícitas como o haxixe e o ópio"
Há quanto tempo nao dás uma voltinha a pá pela baixa pombalina da nossa querida capital? Suponho que bastante, porque isso mesmo me aconteceu e nao há demaisado tempo, e mais me frustrou por estar no que se supoe ser a capital de um pais dito desenvolvido e de um estado da moderna Uniao Europeia...
Abreijos

Manuel Damas disse...

Meu querido Gunde...
A mim também já me aconteceu o mesmo por diversas vezes el Lisboa...
Enfim!
Abreijos