terça-feira, 5 de dezembro de 2006

O numero da vergonha!

3 200 000 000 !
Não!
Não é nenhum codex cabalístico!
Nem sequer é a chave miraculosa de um qualquer sorteio da moda, do género do euromilhões, do totoloto ou quejandos!
Não!
Tão pouco estou na senda da Maya e, com isso, capaz de proporcionar a todos os que me procuram, supostas soluções miraculosas para os pequenos dramas diários, aldeões globais que somos deste território que se diz “Terra de Humanos”!
Bem...
Penso ser já altura de esclarecer.
Refiro-me a euros... três mil e duzentos milhões de euros ou, melhor dizendo, como o meu professor da escola primária me ensinou, um dos tais que a Ministra da Educação faz questão de considerar, directa ou indirectamente, uma cambada de incompetentes, três biliões de euros.
Permitam-me o jogo matemático de converter em escudos... aliás, para facilitar, vamos falar em contos.
Não os contos de encantar, aqueles que este Governo tanto nos recitou, que não a mim, mas enfim, e que tanta gente encantaram na campanha eleitoral.
Não!
Refiro-me aos outros, aqueles que tantos nos custa a receber ao fim do mês.
Pois...
Desses com que pagamos todas as nossas despesas.
640 milhões de contos!
É esse o número da vergonha!
640.000.000 de contos!
É quanto vai custar o megalómano projecto do novo Aeroporto da OTA!
Espero que esta designação não esteja relacionada com a pouco simpática expressão “Otários”...
E, ironicamente vão informando, quase em registo delirante, que 380 novos milhões de euros serão investidos no Aeroporto da Portela para a reconversão de uma estrutura que, em princípio, será para abandonar...
Mas está tudo louco ou serei eu que estou manietado por alguma visão delirante ou por um qualquer delírio esquizoide?
E fecham-se escolas, principalmente do interior, quando se continua de forma vergonhosa e hipocrita a discursar contra os anátemas da interioridade?!
E as escolas que não fecham e continuam a degradar-se, com estruturas obsoletas, sem materiais pedagógicos e a sobreviver nos limites?!
E fecham-se Maternidades, enquanto se continua de modo contraditório, a defender em praça pública, uma suposta preocupação com os Cuidados de Saúde Primários?!
E destroem-se projectos fantásticos, como o da Festa da Música que, se mais não fosse, era um projecto de Cultura e que dava visibilidade para o exterior, nomeadamente internacional, com isso atraindo investimentos?!
E as Autarquias que estão com os orçamentos completamente esgotados e sem qualquer vislumbre de dotação do Governo Central?!
E as Empresas que vão fechando calmamente?!
E o Desemprego que continua assustadoramente nos 7,2% ?!
E as listas de espera para Cirurgias e Consultas que vão aumentando de forma imparável porque os recursos humanos da Saúde se tornam cada vez mais escassos, não existindo verbas para abertura de novos concursos e para a criação de novas vagas...
E as Comissões de Protecção de Menores que continuam exíguas, sem recursos, servindo de arma de arremesso sempre que mais uma Fátima ou uma outra criança qualquer for violentada, assediada, maltratada, violada?!
E os Tribunais que já declararam, oficialmente, que esgotaram as verbas para pagar aos fornecedores?!
E os idosos, que em fim de vida, depois de anos e anos a trabalhar, vêem subitamente as suas parcas reformas, de novo reduzidas, agora com mais um aumento de impostos?!
E os deficientes, que já violentados por força do destino, das suas incapacidades e do ostracismo da Sociedade em geral, se vêem, agora eles, vítimas de uma falta total de decência, de sensibilidade e de solidariedade social, atacados com um aumento da carga fiscal, através de uma maquiavélica redução das possibilidades de dedução?!
E tantos e tantos outros exemplos gritantes de dificuldades...
Mas para o projecto faraónico de um novo aeroporto, já há verbas!
Especificamente para algo que, para aqueles que passam fome, porque em Portugal passa-se fome, não passa de uma visão jamais tangível...
E dizem-nos, com a maior displicência, que os custos deste projecto vão ter que ser revistos em alta porque o dito Jardim Zoológico da vaidade de muitos, que não eu, só vai poder abrir ao público, já não em 2012 mas apenas em 2017... e, calmamente, os custos vão derrapando, num país em que nada nem ninguém tem responsabilidade sobre nada nem ninguém.
E ainda por cima com a desonestidade gritante de amarrar a esse mesmo polvo monstruoso outros governos futuros.
Sim, porque em 2017 não será este o Governo que estará em funções... disso tenho a certeza absoluta!
in Revista do SIPE - Dezembro 2006

2 comentários:

tina disse...

como entendo a tristeza, a raiva, o desgosto, o desencanto mas, mesmo assim, a esperança que transparece no teu escrito!!
fui uma das que acreditaram que o os dicursos eram espelho verdadeiro de intenções honestas de cumprir o que se prometia.
resta-me a esperança de que os previsões, que têm vindo a público, não se confirmem e que, de facto, em 2017 tenhamos melhores governantes.
jinhos, more

Manuel Damas disse...

Pois é, meu anjo...nada do foi dito se tem confirmado...e não vou, sequer, cair na redundância do "Eu tinha avisado..."!
Obrigado pela tua visita e volta sempre.
Jinhos