domingo, 17 de dezembro de 2006

SÉCULO XXI: SEXUALIDADE E ENVELHECIMENTO



Urge repensar a situação dos Mais Velhos, em Portugal!
Mas esta não pretende ser uma frase circular nem tão pouco uma afirmação redundante.
Ainda é normativo que, em Portugal, os Mais Velhos sejam encarados como uma faixa etária não atractiva financeiramente, nomeadamente pelo Marketing e pela Publicidade, que os ostracizam porquanto assumem como “verdade oficial” que a sua desvinculação laboral é sinónimo de parcos recursos financeiros... o que nem sempre é verdade mas, acima de tudo, se afigura incorrecto e injusto.
E esta coitadificação daqueles que representam a memória viva do passado generaliza-se a todos os campos, tornando-se quase impositiva, inclusive na área dos afectos. O Mais Velho, enquanto refém da titulação oficial de “incapaz e debilitado”, parece perder o direito ao afecto, subsequentemente o direito ao desejo e indissociavelmente ao prazer!
Mas o ter atingido a terceira ou quarta idades não pode continuar a ser um estigma!
Não me atrevo sequer a negar, porque seria uma inverdade científica, que existem alterações anátomo-fisiológicas provadas e comprovadas e inerentes ao avanço da idade! Contudo, reconheço que através de uma reengenharia de comportamentos se consegue um adequado desempenho, gerador de gratificação e prazer em qualidade e dignidade.
Os Mais Velhos, porque também mais experientes, adquirem através da vivência dos afectos, com maturidade, a capacidade de re-inventar o prazer, evolução essa que, ao invés de ridicularizada, deve ser acompanhada, acarinhada e estimulada.
Também pelo acima exposto urge desmistificar a verdade pretensamente absoluta de que, nos Mais Velhos, a actividade sexual, se existente, deve ser direccionada para a meiguice e para o carinho, como finalidades absolutas e exclusivas... até porque a desvinculação laboral e a menopausa, entre outros determinantes, permitem o direito ao prazer, já não condicionado por factores como a falta de tempo ou mesmo o receio, sempre castrador, de uma gravidez não desejada.
Impõe-se, deste modo, revogar as crenças e os tabus que a Sociedade e as Culturas associaram, voluntária ou involuntariamente, ao processo de envelhecimento, especialmente no que concerne à vivência das Sexualidades!
O envelhecimento pode implicar um desgaste relacional e mesmo alguma limitação, em termos de desempenho. Existem, sem dúvida, terapêuticas que secundariamente induzem inibição do desejo e prejudicam, ainda que de forma indirecta, a concretização. É inegável a existência de patologias que, ainda que de forma secundária, prejudicam o desempenho e se tornam inibidoras, como as patologias respiratórias, as osteo-articulares e as neoplásicas, entre outras. Todavia, tornar as referidas condicionantes sinónimo de incapacidade, défice, perda ou impossibilidade é, para além de uma veleidade, impor limitações desnecessárias, imprecisas, traumatizantes e prejudiciais.
É obrigatório que relativamente aos Mais Velhos seja permitido e incentivado o direito a compreender, assumir e integrar, com toda a dignidade, as mudanças corporais, munindo-se de novos recursos e estratégias, mantendo sempre presente que, em qualquer fase da vida, está implícita a possibilidade de uma vivência sexual em plenitude, satisfatória e prazerosa, efectuando um upgrade qualitativo, através do uso das mais variadas formas de vivenciar os afectos.
Assumindo as alterações anátomo-fisiológicas com maturidade e tranquilidade e respeitando, sem falsos pudores, os novos limites que o corpo coloca, os Mais Velhos podem alcançar, em pleno, o direito à tríade Afectividade-Intimidade-Sexualidade, de forma orgulhosamente coerente.
É, todavia, fundamental que a comunicação e o diálogo em casal se mantenham, até para que seja possível a constatação, em concreto, de quais as estratégias mais adequadas ao funcionamento na intimidade e à partilha do prazer.
Mas, à Sociedade Civil, em simultâneo, deve ser imputada a obrigação de encarar esta faixa etária com a naturalidade merecida, para que aos próprios seja permitido continuar a vivenciar os afectos, de forma assumida e dignamente reconhecida.
in CadernoSaúde

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