segunda-feira, 6 de abril de 2009
COMENTANDO...
Tenho que confessar...
Este ano eleitoral provoca-me expectativas sérias.
É um triplo acto aquele em que os portugueses vão participar. São as eleições para o Parlamento Europeu, para as Autárquicas e as Legislativas. Sendo três actos eleitorais, apresentam especificidades muito próprias.
As eleições europeias, o primeiro acto eleitoral de 2009, elegem os representantes portugueses ao Parlamento Europeu. Este costuma ser um acto com alguma simbologia, em termos de análise sociológica do País. É uma eleição habitualmente pouco participada, também porque os eleitos estão e mantém-se, infelizmente, distantes e distanciados do eleitorado que os elegeu. Acresce que existe o conceito, ainda que estereotipado, de que a instituição europeia é algo longínquo, desfasado da realidade, cujas decisões ou não afectam ou, se o fazem, é de forma muito relativa, o dia a dia dos portugueses.
Há, também, o preconceito de que este é um lugar e uma função pouco trabalhosos e, simultaneamente, muito rentável, financeiramente.
Até os “media” ajudam a vender a imagem, falsa, aceito, de que esta é a “reforma dourada” para um político. E não podemos esquecer que o português, para além de “voyeur” tem, também, como característica da sua personalidade, a pequena inveja, mesquinha, das conquistas e, principalmente, dos proventos financeiros dos outros.
Mas é preciso também assumir que este acto eleitoral costuma ser usado como um acto de punição do Governo em exercício.
Por outro lado 2009 é um ano de crise, forte, profunda, difícil e complexa, porque internacional. Além que, quando a crise atingiu Portugal e se fez sentir, em concreto, na população, já o País estava em crise. Assim sendo, ainda que não seja meu hábito fazer prognósticos, prevejo uma subida acentuada da abstenção, também como forma de repúdio, no sentido lato, do Governo, da acção governativa, da crise e da política em geral.
E esta deverá ser uma acção contestatária, a valorizar cuidadosamente.
Acessoriamente, prognostico uma descida no “score” atingido pelo Partido Socialista.
O PS é a imagem do poder e a população acha, creio, ser este o momento de exibir um significativo cartão amarelo, usando a gíria futebolística.
Convém, ainda, referir que o próprio Partido Socialista, historicamente tende a desvalorizar este acto eleitoral. Basta ver o cabeça de lista escolhido este ano que, não sendo a única opção disponível, se apresenta ao eleitor anónimo como uma figura desconhecida, distante, altiva, demasiado intelectualizada e com um discurso hermético, principalmente na essência.
Em termos genéricos, Vital Moreira consubstancia uma opção deficitária e assumo-o, mesmo tendo estima e consideração pelo candidato.
O Partido Social Democrata, por seu turno, não deverá conseguir um resultado muito expressivo que sirva de “élan” para a direcção presidida por Manuela Ferreira Leite.
A nova liderança do PSD não tem conseguido convencer o eleitorado, nem capitalizar o descontentamento generalizado da população, muito em parte devido à má estratégia que tem vindo a seguir, mas também por causa dos péssimos estrategas que a rodeiam e da má imprensa que a comenta. Desta forma a mensagem não tem passado e, quando o consegue, fá-lo de forma enviesada.
Até as lutas internas, verdadeiramente intestinas, têm contribuído para descredibilizar os actores e fragilizar a líder.
Este mau resultado poderá vir a ser atenuado ou agravado consoante o cabeça de lista escolhido, ainda no segredo dos Deuses e numa tentativa, aparentemente cautelosa, de não valorizar, em demasia, o referido acto eleitoral.
O PCP e seus satélites não deverão conseguir atingir resultados surpreendentes. Em Portugal, neste momento, o Partido Comunista encontra-se entalado entre um Partido Socialista, de Governo, que à medida que a crise se agrava se tem vindo a esquerdizar, como lhe será conveniente e um Bloco de Esquerda, reinvidicativo e pujante, que soube conquistar, sem dúvidas, a liderança da Esquerda que faz ruído e é ouvida.
Mesmo com Jerónimo de Sousa ou até por causa dele, o PCP parece não conseguir força para reverter a tendência descendente que se vem fazendo sentir.
Ao CDS ou PP, consoante a fase e a liderança, não auspicio grande resultado, principalmente porque o partido se tem vindo a esvaziar, nos últimos tempos, muito por culpa de Paulo Portas. O CDS/PP poderá vir a readquirir importância e visibilidade mas unicamente na dependência dos resultados a obter nas próximas eleições legislativas e, consequentemente, no interesse e disponibilidade manifestados para cooperar numa aliança, inclusive de vertente governativa.
O Bloco de Esquerda, por seu turno, deverá vir a constituir a grande surpresa do primeiro acto eleitoral de 2009. Tem sido um partido interventivo, que tem vindo a saber aumentar a visibilidade e com boa imprensa. O partido liderado por Francisco Louçã tem conseguido capitalizar o descontentamento popular e adoptado algumas bandeiras, como vectores de intervenção, acutilantes e certeiras. Pena é que o seu líder não consiga descolar de uma imagem austera e pesada, rígida e quase agressiva, que não consegue agradar a alguns sectores do eleitorado.
Acredito que o BE possa atingir os dois dígitos com facilidade, podendo aproximar-se da fasquia dos 20%. Todavia este pode vir a ser um resultado perigoso, porque irreal. Atingida esta ordem de valores, o resultado não representará o eleitorado real, nem um aumento, fidedigno, de votantes, significando apenas a capitalização, no momento, do eleitorado descontente, nomeadamente certas classes profissionais que foram nítidos alvos da estratégia e da acção governativas. Refiro-me, especificamente, aos funcionários públicos, aos professores, aos enfermeiros, às forças de segurança, enfim, a estratos profissionais poderosos, com sentido crítico e estratégico. Assim sendo o BE pode correr, a breve prazo, o perigo de repetir o fenómeno PRD, podendo ser-lhe fatal.
No que concerne às eleições autárquicas, estas são atípicas porque aí não funciona a ideologia politica nem a simpatia partidária. Neste caso funcionam, inquestionavelmente, o candidato, o percurso e as propostas, independentemente do partido ao abrigo do qual se candidata.
Mas o grande momento eleitoral, a verdadeira batalha, serão as eleições legislativas.
Aí sim, discutir-se-ão os projectos e o caminho para o País.
A grande distância e condicionado por diversos itens, nem todos conhecidos, creio que o resultado mais provável será a vitória do PS, ainda que perdendo a maioria absoluta.
Nesse caso poderá vir a desenhar-se, de forma consistente, a hipótese de constituição de um novo Bloco Central, que contará com a discreta anuência da Presidência da República, tendo como principal justificação a crise e os interesses nacionais.
Esta será, todavia, uma solução que jamais terá a minha simpatia.
A ver vamos...
Manuel Damas in "Revista do Sindicato Independente de Professores e Educadores", 2009
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
2 comentários:
POis é professor, este é uma no importante mas acho que vai ficar tudo na mesma ou pior...mas acho que ainda pode haver supresa pelo meio.
abraço
Meu caro Casemiro...este pode ser um ano de alguma clarificação.A ver vamos.
Um grande abraço
Enviar um comentário