quinta-feira, 2 de abril de 2009

SUBSTITUIÇÃO DE RECEITUARIO MEDICO

A possibilidade dos farmacêuticos poderem substituir o receituário médico por outros medicamentos, nomeadamente genéricos, tem vindo a ser luta antiga...
Desde sempre os farmacêuticos tentaram conquistar essa fracção do acto médico.
Todavia a questão agravou-se muito recentemente, por iniciativa da Associação Nacional de Farmácias, que apelou aos seus associados que começassem a efectuar substituições medicamentosas, mesmo nos casos em que os médicos assinalem nas receitas, especificamente, a não autorização de qualquer substituição.
Em relação a esta questão oponho-me, com toda a frontalidade e veemência...até porque, por norma, assinalo nas receitas, que não autorizo que o meu receituário seja alterado.
E faço-o por três ordens de razões...
Porque enquanto médico fiz formação específica na áreas farmacológica e terapêutica para poder receitar com qualidade científica.
Porque enquanto ex-director de um laboratório farmacêutico não reconheço total qualidade e segurança plena aos medicamentos genéricos produzidos em Portugal.
Porque não aceito que comerciantes retalhistas de medicamentos se possam atrever a alterar o meu plano de terapia medicamentosa que elaborei, de forma esforçada e consciente, à medida do paciente.
Acho esta medida de enorme risco e até um perigo para a Saúde Pública em Portugal.
A mim não me bastam, no exercício da profissão, os critérios economicistas porque não prescindo, em prol do doente e no combate à doença, do binómio eficácia/segurança.
A Ordem dos Médicos já se pronunciou, de uma forma que eu apoio, na quase totalidade.
Fico a aguardar, calmamente, uma atitude por parte do Ministério da Saúde.

6 comentários:

neves disse...

Em primeiro lugar gostaria de esclarecer o Sr. Prof. que nem todos os farmacêuticos são associados da Associação Nacional das Farmácias, uma vez que desta associação fazem apenas parte alguns dos proprietários de farmácias. Visto não ser este o meu caso permita-me considerar-me um profissional de saúde responsável e preocupado com a saúde dos meus utentes, como acredito também o Sr. Prof o seja com os seus pacientes, que não pretende mais que em COMPLEMENTO com a acção do médico garantir a cura ou alivio ou melhoria da qualidade de vida a quem dele carece. Assim sendo não posso deixar de manifestar o meu desagrado com a sua declaração "...comerciante retalhista de medicamentos..." por considera-la ofensiva e depreciativa de uma classe profissional que, tal como qualquer médico, tem formação na área farmacológica.
O debate desta questão não pode ser feito nestes moldes, tem de passar por uma discussão séria e sem fundamentalismos de parte a parte e sobretudo sem por em questão a honra e o prestigio de nenhuma das profissões. Bons e maus profissionais existem em todas as profissões e infelizmente sou quase diariamente confrontado com prescrições de colegas seus que são motivadas por tudo menos por uma criteriosa avaliação do paciente e no entanto não uso qualquer expressão depreciativa da sua dignidade ou profissionalismo , ao contrario do que o Sr. fez, e que o bom senso me obriga a atrever questionar. Para o bem e para o mal as nossas profissões estão ligadas e quer farmacêuticos quer médicos deveriam ser capazes de trabalhar e dialogar de modo a ser conseguido um consenso do qual a população Portuguesa no seu todo pudesse beneficiar. Acredite que se deixassemos de nos olhar com desconfianças o trabalho de ambos seria bem mais fácil.
E só para que fique bem claro, eu também estou contra a medida que a ANF tenta implementar, não por considerar que os meus conhecimentos não me permitiriam fazer a substituição de um medicamento dito "de marca" por um genérico (a farmacologia que ambos aprendemos é a dos fármacos e não a das denominações comercias), ou por considerar que os médicos detêm algum tipo de conhecimento místico que não pode ser questionado, mas sim por respeito ao vinculo de confiança que deve unir médico e paciente e que, no meu entender, deve ser preservado acima de tudo e também porque não posso concordar com apelos à anarquia e desrespeito da lei.

Manuel Damas disse...

Meu caro Orlando...
Antes de tudo, seja bem vindo.
Li e reli o que escreveu.
É a sua opinião e tem, logicamente, direito a ela.
Quanto à expressão "comerciante retalhista de medicamentos", eu apenas subscrevi a expressão usada pelo Bastonário da ordem dos Médicos.
Um abraço

neves disse...

Facto que não torna a expressão menos ofensiva e prejurativa!
Lamento que tal como o seu Bastonário, não queira ou não consiga ver nos farmacêuticos mais do que isso. Felizmente a população com que contacto tem uma opinião bem diferente da sua e da do seu Bastonário.
Já agora responda-me às seguintes questões para que eu consiga entender exactamente a sua posição:

Se um dos seus pacientes não puder comprar o medicamento de marca porque é demasiado caro, prefere que não tome nada ou que tome um genérico? - Lembre-se que o sistema de comparticipações não pode ser mudado já amanhã e provalvelmente o seu paciente não vai poder esperar!

O que é para si o INFARMED?

Porque é que a Ordem dos Médicos, ao invés de se insurgir contra os farmacêuticos, não questiona o actual sistema de preços de referência que inflaciona enormemente o preço dos medicamentos "de marca", destruindo assim o argumento usado pela ANF?

Um abraço

Manuel Damas disse...

Seja bem vindo Orlando.
Quanto ao que me diz, eu penso que não me fiz entender.
Eu não desconsidero os farmaceuticos.
Eu não quero é que alguem altere o meu receituario, seja farmaceutico ou mesmo colega, sem, pelo menos, auscultar a minha opinião previamente.
Claro que concordo, totalmente, com a revisão dop sistema dos preços de referência, desde que isso signifique, na realidade, um ganho de custyo para a população.
Eu não estou nem tenho que defender a OM, que é bem grandfinha e forte para se defender só por si.
:)))
Quanto a questão específica que me coloca em relação a uma medicação, logicamente que prefiro que o doente tome algo, mesmo que generico seja, a não tomar nada. Mas calma!
É preciso ver o que lhe dão a tomar!!!!!
Meu caro...eu preocupo-me com as pessoas...não com o sistema!
Um grande abraço e volte sempre...mas não seja tao radical no julgamento que faz dos outros!
:))))

neves disse...

E o problema das palavras...têm sempre o significado que lhes quisermos atribuir...
Como diz o Povo "Quem não se sente não é filho de boa gente!" :)
E não se preocupe que se algum dia tiver necessidade de alterar o seu receituário contacta-lo-ei previamente!! ;) (como é meu habito!!)

Manuel Damas disse...

Assim nos entendemos!
:)))))))))))))))))))))))))))))))))))))
Um grande abraço e volte sempre!