domingo, 30 de dezembro de 2007

2008- O TEMPO QUE PASSA...


“Oh Tio, gosto muito do seu programa de televisão!”, atirou ele, quase venerador.
E eu sorri, embevecido, orgulhoso de ser motivo de admiração daquele jovem de 19 anos, filho de uma prima minha. Tinha-o dito assumindo a postura e o olhar que os jovens utilizam quando querem dizer coisas sérias de forma convincente.
E eu senti-me agradado até porque estava a cumprir a “Pirâmide das Necessidades” de Maslow segundo a qual um dos degraus é a necessidade de apreciação e reconhecimento sociais.
Mas regressemos ao momento...
Sorri de novo, enquanto deixava a mente voar livre, mas, subitamente, estanquei...
Revi os últimos momentos desta breve conversa de preparação para irmos para a mesa na Noite de Natal... Daquelas conversas que todos tentamos encetar nestes momentos de latência e que antecedem outras realidades.
Regressei aos últimos segundos e tornei a ouvir a frase...
“Oh Tio...”
Tio?...
Mas que parvoíce, pensei.
Vou ter que lhe explicar, talvez no fim da ceia, que a expressão “Tio” se usa noutros contextos... Com os tios de consanguinidade, o que não é o meu caso, ou com os tios por afinidade... Também não preencho o requisito. Eu sou primo da mãe dele o que faz na árvore genealógica, segundo as regras de elaboração dos mapas genéticos, com que sejamos primos em segundo grau. Usamos também a expressão “Tio” para um daqueles quarentões, habitualmente parentes afastados que, normalmente admiramos mas com quem não temos afinidade suficiente para um tratamento mais à vontade... e quarentão eu também não sou...
Helas!!!!
Mas eu já sou quarentão! Tenho 46 anos o que significa que estou, inclusive, mais perto de ser cinquentão, do que quarentão, concluí estarrecido!
Mas como foi isto acontecer?
O que se passou?
Como foi que o tempo se gastou e nem sequer reparei?
Pois... Na realidade “o tempo voa” é vox populi e o povo tem sempre razão.
O tempo voou e eu nem sequer me apercebi, tão ocupado que estava em crescer, em ficar grande...
E agora, que já sou grande, ou pelo menos que já tenho idade para o ser, ainda não me habituei a saber gerir o facto... tenho dificuldade em racionalizar a evidência!
Eu até ainda consigo nadar uma piscina de 50 metros, debaixo de água, sem respirar uma única vez, tentei alegar para mim próprio ou para o destino todo poderoso, se isso existe...
Ok, com alguma dificuldade, acrescentei corrigindo, mas consigo!
Que horror...tornei-me “prezado”, com o peso pesado de tudo aquilo que o título significa.
Mas se eu ainda há bem pouco tempo conseguia fazer duas e três directas seguidas, umas para estudar, outras para estar com amigos?!
Há bem pouco tempo!
Há pouco mais de... alguns segundos para fazer contas...
Há pouco mais de 20 anos!
20 anos...
Mais do dobro já tenho eu, mas de idade!
Tenho de concordar... realmente, o tempo da juventude passou, subitamente, repentino, à velocidade do tempo que passa! Com todos os aspectos agradáveis e com todos os inconvenientes, mas passou...
E nem sequer vou tentar contornar as evidências com a suposta alegação de que o que verdadeiramente interessa é a idade mental e não a idade cronológica... é desculpa de mau pagador, para plagiar uma frase que uma antiga empregada usava em todo e qualquer momento e que hoje, modernamente, se chama “bengala de linguagem”!
Está bem, assumo-o, contrafeito.
Mas eu ainda me sinto, tantas vezes, quase uma criança?!
São os mesmos olhos, os mesmos braços, as mesmas pernas, o mesmo rosto de sempre!... E nem os cabelos grisalhos me convencem porque tive cabelos brancos muito cedo, muito antes de chegar aos vinte anos.
Estou mais reflectido, confesso, menos espontâneo, talvez, mas continuo a ser eu...
Não refuto mais... Não tenho poder para conseguir que o tempo volte para trás ou, pelo menos, que reduza uns anos aos anos que já lá vão.
Tenho de aceitar, ainda que não satisfeito, nem sequer convencido.
Mas se a juventude passou, com a adultícia não vai ser tão fácil!
Vou estar bem mais atento!
Vou vender, bem caro, cada momento que passar por mim...
Vou saborear cada sorriso que der e que receber.
Vou aprender a sentir, na totalidade, deliciado, a carícia de um olhar, o barulho ensurdecedor do mar que tanto me inebria, a agressão cortante do frio gélido que me faz tiritar, o cheiro de uma bela flor, o sabor de uma meiguice, o calor do teu corpo contra o meu, da tua mão mergulhada na minha.
Até porque, um novo ano se avizinha e, com ele, cada hora vai passar a ter, rigorosamente, 60 minutos e cada minuto vai ter que demorar um minuto a passar e nunca mais os dias se transfigurarão em ténues, rápidos e fugazes momentos que se diluem na espuma dos dias!
Vem aí um Ano Novo e com ele, tudo mudará... espero e quero acreditar!
Manuel Damas in "O Primeiro de Janeiro" 30/12/2007

37 comentários:

Sunshine disse...

O tempo passa e passa igualmente depressa para todos nós: um dia tem 24 horas, cada hora 60 minutos e por aí fora...
É importante saborear a vida como nos apararece em cada dia.
Vamos acreditar que para o ano, para o ano não, já amanhã(porque o tempo de amãnhã não pode ser desperdiçado)todos nós vamos conseguir não deixar passar um momento sem lhe sentir o sabor, o cheiro, o calor...
Feliz 2008 para todos, especialmente para si e para a Maria José.
Beijos.

Statler disse...

Xiii Manéli, parece que estás a morrer!

Waldorf disse...

Olhó velho tá aqui!

Olha lá Ó Damas eu sou o triplo de mais velho que tu e não tenho discursos lamechas desses que mais parecem psicoterapia aplicada à arte de aprender a ser defunto!

O que lá vai lá vai!
O que lá vem é do baril!
E o que está a acontecer é do MELHOR que te pode estar a acontecer!

TOPAS ou não?!

Waldorf disse...

Oh Damas, vim dos andares de baixo e vejo que até já te babas!
Não digas mais nada, já percebi as tuas inquietações, meu velho!

Statler disse...

Velho, tinhas que ser tão explicito?
Controla-te!

Ok, sei que não gostas que te diga para te controlares.

Descontrola-te!

Olá!! disse...

Acho uma maravilha ir ficando menos novo e conservar o espirito jovem (não o infantil)...
A vida não pára.... vamos reciclando os maus momentos e coleccionando os bons...

Waldorf disse...

Velho, sabes que eu e o control não queremos nada um com o outro, aqui o sexo com o velhote é seguro, aliás é altamente seguro, segurissimo pode-se dizer, nem chega a acontecer!

Manuel Damas disse...

Um beijinho grande CC e que as nossas promessas, que todos os anos repetimos, este ano não fiquem esquecidas!
:))))))))))))))))))))))))

Manuel Damas disse...

Sta, meu querido...oh homem, não te excites por supores que conquistaste mais um para o clube do reumático...Foi apenas um desabafo! Isto, por aqui, ainda funciona tudo muito bem, sem químicos nem conservantes e na realidade!
:))))))))))))))))))))))

Manuel Damas disse...

Wal...wal...wal...
Quanta má interpretação para aí vai!
Oh homem...isto é um discurso ficcionado!!!!
Isto é literário!
Duhhhhhhhhhhhhhhhh
;)

Manuel Damas disse...

Olá, "ola"...
Concordo!
De qualquer modo preferia fazer a minha colecção mais devagar e sinto que, a completo, cada vez mais depressa.
:)))

Waldorf disse...

Sôr Doutor, aqui o velho já não acredita nessas coisas do literário e tal! Aqui o velho já cá anda há muito, há muito mais do que imagina!

Manuel Damas disse...

Meu caro Wal...nem tudo o que parece, é...nem tudo o que é, parece.
Em princípio...
:)))))))))))))

FM disse...

Gostei, li no papel à hora do almoço... anda a escrever Bem, Parabéns! Continue...

Manuel Damas disse...

Obrigado pelo elogio, Francisco que sei que, no seu caso, tem conta, peso e medida...

navegadora disse...

Pois, mais uma vez concordo consigo...em pleno...também já estou nos "entas" e com que rapidez aqui cheguei...Parabéns pelas crónicas e pelo Blog, alguns textos seus já os "piratei", quanto ao programa de TV fico com pena, com muita pena de não o poder ver aqiu nos confins...Massamá é longe...:)é o que dá não morar no Norte... Fernanda

Manuel Damas disse...

Obrigado pela visita, Fernanda, que já retribui, obrigado pela sensação agradável, mas estranha e obrigado pelos elogios.
Quanto ao programa, Massamá não é mais longe do que Ponta Delgada, Funchal, Horta e outros sítios bem longíquos onde nos vêm ...

Waldorf disse...

Caro, meu caro, meu caro.
Onde há fumo há sempre fogo, mesmo que seja só fogo de vista. Mas que o há, há!
E quando se escreve na primeira pessoa, há sempre algo de nós que fica lá. È impossivel o Sôr Dr. ter escrito tal texto sem ter uma pontinha, senão muito de si naquelas palavras.
Que se queira fazer de durão, até aceito. Mas não em mande areia para os meus olhos esbugalhados!

Anónimo disse...

parabéns senhor irritante:p TIOOOOO...COTAAAAA...:p está a ficar velho está

Manuel Damas disse...

Meu querido Wal...
Não vou negar até porque não me atrevo a tentar fazer de parvo o criador de um dos mais originais blogs que conheço!
Este texto tem muito, tanto, tudo de mim...
2007 foi, por diversas razões, um ano muito complicado, principalmente na área dos Afectos e chego ao fim cansado e com a sensação do peso não de uma idade que ainda não sinto, mas de um ano que me magoou profundamente, por diversas vezes.
Quero crer que tenha sido por lá ter o número da Besta!
A ver vamos!
Por isso, aqui vai o assumir de uma realidade, sem Máscaras!

Manuel Damas disse...

Patrícia...velha era a sua prima mas, segundo rezam as crónicas, agia como uma nova!
:PPPPPPPPPPP

Waldorf disse...

Isso Sôr Prof, vamos assumir que temos fraquezas... também as tenho, como qualquer ser humano mesmo roubado à vida pelo estupor do Alzeimer!

Manuel Damas disse...

Wal, meu caro, um fantástico 2008 para ti também!

Waldorf disse...

Vim de cima e agora reparo que tenho aqui votos dois mil e oitanos! Para ti, si, sôr doutor também o que de melhor se conseguir arranjar!

Manuel Damas disse...

Só???????????????????
Somítico!
:)))))))))))))))))

Waldorf disse...

Dá valor ao que tens, e ao que sabes que podes conseguir, assim quando tiveres o que não esperas, o que julgas impossivel serás feliz a dobrar!
(sabedoria marreta)

;)

Manuel Damas disse...

Isso não é nenhuma máxima dos vietnamitas?????
Espera...
Já sei!
É da Suazilânida ou do Borkinafaso...

Waldorf disse...

Nada disso, foi inventada na hora, expressamente para si!
Quanta honra... hummm ;)

Manuel Damas disse...

Honra a sua ou a minha?
:))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))

Waldorf disse...

A honra é do futuro sorriso que deres quando te lembrares destas palavras aqui do velho!

Manuel Damas disse...

Oh Wal...Nós vamos ter ue combinar uma coisa...Ou nos tratamos por "tu" ou por "você"...Variar consoante os apetites...ninguém merece!!!!!!

Statler disse...

Oh sôr doctour, deixa para lá essas coisas de como nós (tu, eu, ele) nos tratamos, somos amigos e os amigos tratam-se de todas as formas e feitios e acabam sempre com um sorriso!

Amen.

Statler disse...

Gosto do AMEN (ponto final).

Ponto final???
Onde é que já ouvi isto? ;)

Manel, toma lá um sorriso dos teus!

:)))))))))))))))))))))))))))

Manuel Damas disse...

Oh Sta...
Também eu gostei dessa do amen...
Preferia, já que estamos no registo clerical, latim...
Tipo...
"Ite missa est"... ou
"Consumatum est"...
Obviamente que não vou traduzir até porque, pela tua faixa etária, estarás bem mais dentro do latim do que eu!
:)))

Statler disse...

Sou um poliglota venerado aqui e além mar, só que já não faço uso das linguas, com esta idade quero é descanso!

Manuel Damas disse...

Isso...Espevita-me a curiosidade!!!

Statler disse...

Querias... :P