domingo, 4 de fevereiro de 2007

11/2



POR MAIS QUE CUSTE A ALGUMAS PESSOAS, VOTAR "NÃO" NO DIA 11/2 É VOTAR A FAVOR DO ABORTO CLANDESTINO!

5 comentários:

Cristina disse...

Em declarações recentes, Sócrates diz: Votar Não, é deixar tudo na mesma.

No entanto há quem do alto dos seus 70 anos diga: Voto Sim, não por mim que já sou velha, mas pelas minhas filhas e pelas minhas netas.

Unknown disse...

Acho a afirmação do Professor algo radical. O NÃO também tem argumentos sérios e de consciência. Ninguém está a favor do aborto. Ninguém quer que as mulheres sejam presas ou condenadas ou humilhadas à barra de um tribunal. Só que, penso, o SIM, infelizmente, não vai travar a clandestinidade. Vai apenas liviar «uma costela de Sócrates».

Manuel Damas disse...

Pois é Cristina!
Há quem consiga pensar muito para além de si!

Manuel Damas disse...

Olha...olha...A Maria José sentiu-se! :)))
Eu apenas disse que votar "NÃO", é deixar tudo na mesma e, como tal, continuar a permitir o aborto clandestino...
Eu sei que doi...mas na prática, se calhar, tem toda a veracidade...:P

Mar da Lua disse...

"Carminho senta - se nos bancos almofadados do BMW da mãe. Chove lá fora. Encosta o nariz ao vidro para disfarçar duas enormes lágrimas que lhe rolam pela face. A mãe conduz o carro e aperta - lhe ternamente a mão. Há muito trânsito na Lapa ao fim da tarde. A mãe tem um olhar triste e vago mas aperta com força a mão da filha de 18 anos. Estão juntas. A caminho de Espanha.

(Mais a baixo na cidade)
Sandra senta - se no banco côr - de - laranja do autocarro 22 que sai de Alcântara. Chove lá fora. Encosta o nariz ao vidro para disfarçar duas enormes lágrimas que lhe rolam pela face. A mãe está sentada ao lado dela. Encosta o guarda - chuva aos pés gelados e aperta - lhe ternamente a mão. Há muito trânsito em Alcântara ao fim da tarde. A mãe tem um olhar triste e vago mas aperta com força a mão da filha de 18 anos. Estão juntas. A caminho de casa de Uma Senhora.
O BMW e o autocarro 22 cruzam - se a subir a Avenida Infante Santo.

Carminho despe-se a tremer sem nunca conseguir estancar o choro. Veste uma
bata verde. Deita - se numa marquesa. É atendida por uma médica que lhe
entoa palavras doces ao ouvido, enquanto lhe afaga o cabelo. Carminho sente
- se a adormecer depois de respirar mais fundo o cheiro que a máscara exala.
Chora enquanto dorme.
Sandra não se despe e treme muito sem conseguir estancar o choro. Nervosa, brinca com as tranças que a mãe lhe fez de manhã na tentativa de lhe recuperar a infância. A Senhora chega. A mãe entrega um envelope à Senhora. A Senhora abre-o e resmunga qualquer coisa. É altura de beber um liquido verde de sabor muito ácido. O copo está sujo, pensa Sandra. Sente – se
doente e sabe que vai adormecer. Chora enquanto dorme.

Carminho acorda do seu sono induzido. Tem a mãe e a médica ao seu lado. Não sente dores no corpo mas as lágrimas não param de lhe correr cara abaixo. Sai da clínica de rosto destapado. Sabe –lhe bem o ar fresco da manhã. É tempo de regressar a casa. Quando a placa da União Europeia surge na estrada a dizer PORTUGAL, Carminho chora convulsivamente.

Sandra não acorda. E não acorda . E não acorda. A mãe geme baixinho desesperada ao seu lado. Pede à Senhora para chamar uma ambulância. A Senhora não deixa, ponha – se daqui para fora com a miúda, há uma cabine lá em baixo, livre – se de dizer a alguém que eu existo.
A mãe arrasta a Sandra inanimada escada a baixo. Um vizinho cansado, chama o 112 e a polícia.
Sandra acorda no quarto 122 dias depois. As lágrimas cara abaixo. 'Não poderás ter mais filhos, Sandra', disse –lhe uma médica, emocionada. Sai do hospital de cara tapada, coberta por um lenço. Não sente o ar fresco da manhã. No bolso junto ao útero magoado, a intimação para se apresentar a um tribunal do seu país: Portugal.

Eu voto sim . Pela Sandra e pela Carminho. Pelas suas mães e avós. Por mim."

Rita Ferro Rodrigues