domingo, 11 de fevereiro de 2007

A EMOÇAO E A RAZAO...NOS AFECTOS!



“A Razão”, recomendam-me de forma ponderada...
“A Emoção”, replicam acaloradamente!
Eis-me, de novo, envolvido na velha dicotomia...A quem deve ser dada prioridade?
É velha de séculos, esta dúvida, entre a Razão e a Emoção!
Mas, afinal, a quem atribuir o primado?
Uma relação deve seguir os princípios da emoção, da afectividade, do impulso, valorizando a paixão, a intimidade, o carinho, a meiguice, o valor do toque, o peso precioso do olhar, a carícia de um sorriso? Em substância, optar pelo calor do “estar em...”, em detrimento do calmo e tranquilo “estar com”?
Ou, em contraposição, o mais acertado será seguir a razão, a racionalidade calma e reflectida, consciente, pensada ao ínfimo pormenor, com o intuito de evitar a desagradável sensação do incontável, equacionando analiticamente todos os “prós” e os “contras”, avançando cautelosamente, cada passo dado servindo de sustentação para tantos outros, dando, em permanência, espaço e tempo para que o pensamento, de forma metodologicamente correcta, analise toda a situação, calculando e quantificando, de forma irrefutavelmente imparcial, o binómio débito versus crédito?
Haverá, certamente, militantes de um e de outro lado da fronteira!
Todavia, a argumentação de qualquer um dos lados apresenta-se, no mínimo, tentadora!
Atiram-me com o peso de um beijo, o conforto do respirar terno de quem se ama, a sensação do corpo de um que descansa, embalado no outro! Falam-me do doce sabor dos afectos, da presença que ilumina e aquece a existência! Do motor que, só por si, estimula a ultrapassagem de todos os obstáculos diários, apenas e tão só pelo acto de presença, em relação! Alegam-me a envolvência inebriante do estar a dois, viver a dois, respirar a dois, ser a dois! É o reinado dos afectos, por excelência, imbuído de um empenhamento apaixonado, sem lugar, nem vontade, para cálculos primorosamente assépticos!
Do outro lado, captam-me com a racionalidade tranquila e calma do conhecido! Sempre estável, sempre igual, sempre cómodo, sem sobressaltos! Da existência pacífica, porque sobriamente concertada, sem oscilações, de forma previamente calculada, sem envolvimentos excessivos nem demasiado invasivos, sem dádivas que façam sangrar, sem queixas, nem lamentos ou cobranças, porque da linha mediana se não afastou, a relação, um milímetro do projectado!...É a serena tranquilidade, nunca traiçoeira, jamais adúltera, sempre confiável!
Todavia, reflectindo sobre alguns dos muitos argumentos que ambas as partes poderiam chamar à colação, seria impensável aqui proclamar, qual a ordem dos factores...e, muito menos, se tantos antes de mim, bem mais Sábios, sequer tiveram a veleidade ou a ousadia de o fazer.
Assim, já que não há espaço ou vontade para orações de sapiência ou decisões draconianas posso e devo esboçar, contudo, uma opinião.
Não considero que os Afectos possam ou devam ser mensuráveis por uma qualquer grelha de avaliação, daquelas que tantos usam para se esconder, receosos de avançar com um prognóstico que pode, em muitos casos, sair de eficácia duvidosa!
Reconheço que há, no entanto, quem dê, de forma militante, o primado à Razão! Quiçá por obsessiva metodologia, por tentativa de protecção do “self”, por receio do processo de cedência, negociação e dádiva que o estar em relação, de forma conscientemente amadurecida deve implicar, ou por tantos outros motivos de similar calibre. Até mesmo fruto de uma análise fria e imparcial de outras tantas experiências anteriormente vivenciadas.
Lamento...
Eu não!
Entre a Razão e a Emoção opto, claramente, pelos Afectos que, ao sabor da emoção, geram chama, calor, envolvimento, paixão, Vida...
Manuel Damas, in "O Primeiro de Janeiro", a 11-2-2007

4 comentários:

Unknown disse...

Dos melhores e mais honestos artigos que li sobre a emoção e a razão. Penso que a emoção, os sentimentos, o inexplicável que nos faz feliz pode ser uma impressinante armadilha do «coração», e é aí que a razão é fundamental para o equilíbrio. Nunca perder o bom senso pode afectar pleno dafelicidade emocional, mas pode servir de protecção.
Nunca se sabe o como bate o coração por quem o nosso coração bate.
É melhor usar «preservativo»!

Anónimo disse...

Doeu ler isto...doeu porque dói sempre confrontar a verdade de uma razão que nunca existiu...
Doeu, porque sei que em mim veem uma miúda de 19 anos quase, quando eu me sinto velha e sem sonhos...acho que foi sempre assim...parou só quando me fizeram sonhar, hoje percebo mais uma vez que não há sonhos possíveis se estes não dependerem apenas de nós mesmos.

Manuel Damas disse...

A intenção, Maria José, foi uma vez mais, fazer pedagogia.
Obrigado peloo elogio.

Manuel Damas disse...

NOP, Patrícia!
O sonho é sempre possível e faz bem ao ego...
Deixar a mente sonhar faz bem!
Pode estar dorida, magoada, desiludida...
Mas ainda tem tanto, tudo, pela frente...