sábado, 5 de abril de 2008
A ANGÚSTIA DO ESPAÇO EM BRANCO
A angústia...
A terrível angústia...
A terrível angústia de não saber...
A terrível angústia de não saber o que escrever.
Pedantismo?
Não.
Angústia, asfixiante mesmo!
A enorme angústia de olhar para uma folha de papel em branco e não saber o que escrever ou sequer sobre o que escrever. Eu sei que a modernidade tentou, supostamente, facilitar as coisas ao substituir a folha de papel por um monitor...mas isso é uma inverdade. Na realidade, esta suposta facilidade mais não é do que uma falácia, porque apenas consegue fazer aumentar, de forma exponencial, a angústia do deserto de ideias. Um enorme e incontornável deserto de ideias. Agora já não é a enorme folha de papel em branco que olha trocista...é um monitor, mais frio, mais cortante, mais ameaçador que, expectante aguarda, ansioso mas crítico, desdenhoso e trocista, como se a todo o momento gritasse, de forma racionalmente acusadora e sem diplomacia...
“Mas porque insistes tu em continuar a ter a mania de que sabes escrever?
Porque continuas tu a considerar que consegues escrever algo de substancial, de estruturado, de válido e capaz de suscitar interesse? Porque achas tu que tens o direito justificado de considerar que alguém goste de te ler?
De forma jacobina, insistes em ter a veleidade de pensar que alguém te lê?”
Pois...
É esta a tortura.
É esta a insegurança.
É esta a dúvida.
É o peso asfixiante do monitor que olha, mudo...
E o relógio, trocista, vai deixando passar as horas, encurtando o tempo que sobra, denunciando a falta de ideias, trazendo-a à luz, expondo-a ao ridículo...a insuspeitada falta de ideias.
Há quem considere este tema uma diatribe insana.
Pois...
Quiçá.
Mas esses, esses são os Outros, os Escritores...
E eu nunca afirmei que o era. Até porque sei e sinto que não o sou.
E se alguém o disser...eu nego!
Não!
Não me consigo considerar, qualificar, saborear, como escritor!
E tenho pena, imensa pena, de não o conseguir. Assim sendo, estou inocente da crítica e do ataque, por falta de qualidades...
Não sou escritor!
Mas não estou imune à asfixia.
Como tal, tenho o direito, o espaço, a oportunidade e o tempo para me considerar e sentir uma vítima da vulgaridade. É o que eu sou e relembro-o, cada vez que tenho uma crise de falta de ideias.
Eu, ou me sento em frente ao computador, já com um tema pré definido e com algumas ideias e frases alinhavadas ou então, se o dia e o momento são de negação, o processo torna-se uma verdadeira tortura.
Sou obrigado a tentar descobrir entre os milhões de pixeis que me fixam, trocistas, um, verdadeira estrelinha da sorte, compagnon de route que me consiga transmitir uma ideia que eu, depois, possa converter em texto.
E a sensação é terrível, tenho que confessar!
Não tenho a sorte nem a arte de ter sido, ser ou algum dia vir a ser um escritor, um artífice da palavra escrita, um contador de textos, de memórias, de contos, de interioridades.
Sinto-o e sei-o, assumidamente e sem oportunidade para veleidades.
Assim fosse eu...teria orgulho!
Mas, triste e mediano mortal, não sou um escritor...está decidido!
E mais do que comprovado.
Precisamente por isso, tenho justificado direito à vulgaridade de ser uma vítima da angústia da folha de papel em branco, agora modernamente travestida de monitor...
Assim sendo, serei um cronista?
Muito menos.
Crónicas são peças de texto estruturadas, pensadas, reflectidas e qualificadas sobre um tema...
E nem isso eu faço.
De quando em vez, escrevo frases a que pomposamente classifico de reflexões.
Outras vezes enuncio as minhas reclamações, muitas delas inflamadas mas sempre justificadas e justas. Outras, faço o que tento fazer hoje...cumprir um compromisso, não desiludir mas, acima de tudo, conseguir, de forma digna, escrever algo de válido.
Por isso, a razão, plenamente justificada e agora explanada, destas minhas crises de angústia...sobre o que escrever.
Regresso, a título de reforço e de forma pedagógica, ao que acima enunciei.
Sei que muitos há que consideram este meu lamento um diletante queixume, uma vacuidade...
Felizes, esses!
Mas eu...
Eu sou terreno e terráqueo.
Não tenho saber nem oportunidade para mais, ainda que a contragosto.
E por isso, sufoco em momentos como o de hoje.
Fico angustiado.
Fico agitado.
Não consigo estar quieto nem parado.
Invento as mais diversas, ridículas e díspares tarefas para tentar preencher um vazio temporal que deveria ser dedicado à tarefa que a mim próprio atribuí...a de escrever.
E o tempo vai passando, gotejante.
E o limite vai-se aproximando a uma velocidade atroz, fazendo aumentar, de forma ainda mais ansiógena, a minha intranquilidade.
E assim se inicia um bailado guerreiro e guerreado, maquiavélico, entre a vontade e o sentido da responsabilidade... entre tentar escrever algo de substantivo e uma enorme e asfixiante sensação de incapacidade, uma pegajosa e avassaladora sensação de imponderabilidade...
Pois ...
É esta a angústia.
É este o suplício.
É esta a tormenta.
A terrível angústia de não saber o que escrever, ainda que assumida e denunciada de modo transparente.
A terrível angústia do espaço em branco...
Manuel Damas in "O Primeiro de Janeiro" a 6-4-2008
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44 comentários:
Professor, escritor é o que escreve. E não é por não se sentir que deixa de o ser.
Queria... quero continuar a lê-lo.
beijinhos
...claro que gostei imenso da forma como perencheu «este papel branco».
Bom, para quem não se intitula escritor, para quem não tem inspiração, imagino se tivesse
(risos)
A verdade é que não é preciso que nos consideremos escritores para que a magia daquilo que escrevemos encante os outros e, tantas vezes, a nós próprios. Há por aí tantos escritores que não o são. Porque não de vez em quando fingir?
Vai desculpar,
mas a angústia do papel em branco todos os escritores a sentem.
Portanto, viva com a angústia, e escreva.:)))
Beijinhos e veludinhos.
PS:Tem um mimo lá no Bluevelvet
Escrever é fácil, transmitir algo é difícil...
Acho que transmite bem aquilo que quer e a escrita é fluente e acessível. Parabéns também pela letra ;)))) bonita.
Beijinhosssssssss
Gostei muito de ler esta folha, que antes estava em branco, e onde tão bem soube colocar as palavras.
"...vítima da vulgaridade.", nunca o classificaria deste modo! Tudo menos vulgar e muito menos vítima.
Contineu a preencher as folhas de papel, os espaços com a sua voz, porque a si, pelo que leio, pelo que oiço, não faltam idéias.
beijinhos com raios de Sol (apesar de por cá estar a chover)
Damas, é por isso que eu e o velho nos dedicámos à poesia!!!!
Se sem ser escritor resulta assim...
Se sem ser escritor prende as pessoas que gostam tanto de o ler...
Se sem ser escritor cnsegue expressar o dom da palavra...
Se sem ser escrito prende pessoas ao monitor...
Então se fosse escritor...
Puft...invadia todos os noticiarios tipo...
"Descoberta nova droga, distribuida de forma virtual...bla bla"
Porque acredito que muitas aumentariam o seu nível de "dependencia" em relação ao SAM.
Um beijo enorme, e...parabens pelo que escreve!
Para escrever da forma como escreve só pode ser um ...escritor!!
E todos passam pela fase angustiante do "espaço em branco". Os bons ultrapassam-na e preenchem esse espaço (tal como o Prof. fez), os outros...simplesmente desistem sem que a luta sequer os canse!!
Feliz por estar de volta deixo-lhe uns beijinhos com afectos
olá bom dia :)
bem quando o problema é não saber o que escrever, pois escreve-se sobre o problema :)
assunto resolvido por agora.
boa semana,
bjinhos =^.^=
quando tenho a honra da sua "visitinha"?
ATão Damas?!
Não dizes nada?!
Estranho-te e por consequência sinto que queres que me desentranhe!!!!
Fica sabendo que essa estratégia cai no saco roto aqui do velho!!!!
Não desentranho, não desabito, não desando, não descolo!!!!
FICO!!!
Não vou embora para não ter que voltar!!!!
Vir para aqui de bengala cansa-me, e o teu silêncio está a deixar-me exausto!!!!
looool
Então e as suas letras, para preencher o espaço branco aqui do meu monitor? Onde param?
Sinto a falta dos seus posts que mal conseguia acompanhar.
Beijinhos
Professor, estranho-lhe a ausencia nas palavras, entre as suas e as nossas, está a ficar muito por dizer...
Não quero acreditar que a inspiração se foi, momento de introspecção, poderá ser, mas peço-lhe:
Não deixe cair, este canto de si. Não deixe que fiquemos privados do seu saber, não é justo.
Deixo-lhe um beijo e aguardo.
Obrigado Maria José!
Ora seja muita bem vinda, caroxa...
Instale-se por aqui e fique à vontade!
:)))))))))))))))))))))
Um beijito grande, Patrícia.
Oh "bluesinha"...passo por lá mais logo...
Um bijito grande
Hummmm, Oh Damas, tens o relógio avariado, já viste?!
Que eu saiba são precisamente:
0:43 do dia 8 de Abril de 2008
Tens que acertar isso!!!!
A letra é das qualidades maiores que tenho, "ola"...
:)))))))))))))))))))))))))))))
Monday, April 07, 2008 11:43:00 PM
Bah!!!
Um beijinho grande, CC e obrigado pelos raios de sol.
Por cá chove bem...
Declama-me um verso teu, docas...
Fez-me lançar uma gargalhada, "diabitah"...
Obrigado!
Adoro beijinhos com afectos, Mary e, neste momento, nem sabe como bem me sabem...
Obrigado.
Pelo menos tentei, "micas"...
:))))))))))))))
Patrícia.meu anjo...se a menina soubesse como vai e por onde anda a minha vida, até dava um grito!
Meu querido Waldorf...por vezes há outras imponderabilidades para as quais não temos força...
Mas, estou cá, de pé!
O regresso está a ser lento e faseado, CC, porque o dia só tem 24 horas...
"Coragem" este meu castelinho não vai cair..."Jamais", como diria o Lino...
Mas o tempo tem estado curto...
E a disposição também!
:)))))))))))))))
è o meu lado de António Calvário, Docas...
"Oh tempo, volta para trás...
Dá me tudo o que eu perdi..."
O seu lado de António Calvário?!?! Isso é muito mau... O que é que se passa consigo?!?! Anda com uns hábitos estranhos?!? (risos)
Nada meu caro. Mesmo nada..
Declamar?!
Que embaraço...
Damas, meu caro
Homem de Afectos,
Sexualidades. Claro!
De Máscaras e directos
Declamar?!
Só se fôr um abraço!!!!!
Que lamechice!!!!
Bah...
As coisas a que a velhice me obriga!!!
Oh Docas...tu desculpa lá a frieza mas "Afectos" e "directos" não me parece rima pura...
Por outro lado "claro" e "caro" cria algum "noise" por causa do "l"...
Digo eu...
Damas, lá estás tu!!!
Pedes e depois reclamas!!!
Quem dá o sabe, a mais não é obrigado!!!
Eu nunca disse que sou poeta!!!!
Bahhhh
Fartei-me de procurar mas não vi passar.
Anda de Homem Invisível?:)))))
Beijinhos e veludinhos
Oh Docas...e não recebes tu as minhas ajudas meigas...
:P
Oh azulinha...porque só passei e não deixei marca...
:P
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