domingo, 7 de outubro de 2007

SABORES DE OUTONO


Gosto da designação ASAE...
É uma sigla pequena, redonda, atraente e quase alegre. Acho mesmo que tem musicalidade. Nitidamente decomponível em dois segmentos... “ASA” e “AE”. O primeiro componente, “asa”, remete-nos, subliminarmente, para o conceito de liberdade. Ser alado, provido de asas. Atira-nos para o acto de voar, o voo, planado, associado a liberdade, a espaço sem limites, a zona sem fronteiras, a irreverência, a ausência de condicionantes, sem imposições nem condicionalismos...ao verdadeiro acto de ser e estar em liberdade, sem amarras nem âncoras, sem máscaras nem estereótipos, sem papeis nem imposição dos mesmos, de qualquer índole.
Ao voo em liberdade!
Basicamente, ser livre...
O outro segmento, “ae”, qual grito consentâneo com o acto da fuga, do levantar voo em plenitude, similar ao do Ipiranga...o grito de e para ser feliz. Complementa o vocábulo anterior, como que o confirma e o projecta ainda mais longe.
Em resumo, a sigla ASAE remete-nos, como um todo, para o acto de ser livre!
Até aqui, quem me lê, está estupefacto e alguns, senão todos, pensarão...
“Desta vez, passou-se mesmo!”
Não!
Tranquilizem-se os amigos e desiludam-se os inimigos.
Não!
Não me passei!
Apenas temo, seriamente, pelo futuro próximo.
Deixem-me que vos/nos remeta para uma crónica anterior...“Relativamente às estações do ano, assaltam-me as recordações do Verão, especificamente os momentos na praia.(...)Por último, mas não em último, invadem-me as recordações dos sabores.
Os deliciosos sabores de Verão!
Anunciados, trauteados, gritados, os pregões tentadores antecipavam o início do ritual dos sabores.”
É, precisamente pelo que já aqui escrevi, que volto a repescar o assunto. Já não sobre os sabores de Verão e a crónica exaltada sobre a perseguição injusta e desenfreada às “Bolas de Berlim”.
Agora, temo que a situação se repita, com igual efeito nefasto.
Dir-me-ão...”Mas já não estamos na época da praia e das bolas de Berlim!”
Pois não!
E isso preocupa-me muito...
É que estamos a entrar no Outono, na época das chuvas e, também aqui, existem sabores associados a afectos de outrora e pelos quais temo.
São as castanhas assadas que me preocupam, no momento.
É o Outono, é o tempo invernoso, as chuvas e o frio, os ventos e o nevoeiro, mas também os carrinhos das castanhas assadas.
Estaladiça, quente, saborosa, dura, adocicada, a castanha assada, vendida na rua, tem um sabor inequívoco, jamais copiável, quer em casa, quer em qualquer restaurante, por mais afamado que seja e quiçá candidato a uma qualquer estrela Michelin.
Não!
São sabores únicos...
Até o jornal que, em forma de cartucho traçado na hora, para as envolver, conter e manter aquecidas, até esse jornal marca a diferença, seja qual for a data da publicação, sejam as notícias desse momento felizes ou infelizes.
É todo este ritual que se entrelaça e que faz parte do meu acervo de afectos do passado...É todo este baú de memórias que se encontra, de novo, ameaçado.
Os assadores já por aí espreitam, felizmente...
Mas, até quando?
Não acredito que nos recônditos calabouços, escuros e húmidos, porque tenebrosos, da toca da ASAE, aquele que manda, porque nestes locais e instituições há sempre alguém que manda, por mais anónimo e anódino que seja...não acredito, escrevia, que este ser mandante, ainda não tenha arquitectado um ardiloso plano para apanhar os incautos vendedores de castanhas assadas.
Não acredito que as perseguições não estejam já equacionadas com o intuito de multar, castigar, deter, os “terríveis criminosos” que são os vendedores de esquina de castanhas assadas!
Isso é futurologia, dir-me-ão!
Isso é pessimismo, atirarão!
Realidade, replico!
Também no Verão ninguém previa as perseguições quase dantescas que foram efectuadas aos vendedores de praia, tão só e apenas por procurarem deleitar miúdos e graúdos, nos seus momentos de lazer, com a venda de doçarias balneares.
Também agora a história se poderá repetir, já não nas praias do nosso descontentamento mas em qualquer esquina onde, ano após ano, nos deleitámos com estes característicos sabores de Outono.
Temo, pois, que tudo volte de novo, independentemente das dezenas de crónicas que, por este País fora se produzirão!
Por isso alerto, de forma antecipada.
Daqui lanço um aviso a todas as castanhas assadas do nosso descontentamento.
E termino esta crónica, da mesma forma revoltada e preocupada com que terminei a que aqui escrevi, no Verão, sobre as Bolas de Berlim...
“É esta deliciosa cornucópia de memórias e sabores que a ASAE, qual polícia de costumes, de forma ortodoxa e fundamentalista, pretende exterminar, ao querer impor normas e regras de procedimentos, exageradas e utópicas, desfasadas da realidade, inevitavelmente destruidoras de uma mística mágica que seria possível manter, de forma salutar.
Maldita seja!”
Manuel Damas in "O Primeiro de Janeiro" a 7/10/2007

6 comentários:

FM disse...

Parabéns, está "apetitosa"... a "castanhada". (risos)

Manuel Damas disse...

É pena que tenha sido por este motivo...

FM disse...

Pois é...

Manuel Damas disse...

Hoje, parei o carro na berma da estrada, junto a um assador e empanturrei-me de castanhas assadas!
Deliciosas!
Serão desejos???
:)))))))))))))))))))))

FM disse...

Vá à farmácia e...verifique.
Será menino ou menina?!? (gargalhadas)

Manuel Damas disse...

Barrigudo estou que baste...mas há quem se prepare para ter gémeos...
:P