domingo, 21 de outubro de 2007
ASSEDIO SEXUAL NO LOCAL DE TRABALHO
Só quando fui recentemente convidado para proferir uma conferência no 1.º Fórum Internacional de Higiene e Segurança do Trabalho e que intitulei «Assédio Sexual no Local de Trabalho» é que me apercebi que ainda não tinha dado espaço, nesta rubrica, ao silêncio angustiado de quem é assediado sexualmente no contexto laboral.
Mas não se pense que se trata de uma realidade ínfima ou distante!
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) afirma que 52% das mulheres economicamente activas já foram assediadas sexualmente.
A expressão «assediar» tem origem etimológica no latim «obsidere», significando «atacar». Todavia, o castelhano possui uma expressão que considero mais emblemática... «Acoso». Reporta à fera ferida, ao animal que atingido de morte, foge e se refugia, no fim da linha, sentindo-se perseguido. E é assim que se sente a vítima de assédio sexual no local de trabalho... Acossada!
Este conceito teve origem na década de setenta, na Universidade de Cornell, quando estudiosos se aperceberam que existiam práticas sexuais, em contexto de trabalho, invasivas e despudoradas, baseadas no desequilíbrio de poder existente no binómio empregador-empregado.
Mas esta não é uma realidade circunstanciada ou idiossincrásica...
Shere Hite afirma que 7 em cada 10 homens e 6 em cada 10 mulheres já tiveram algum envolvimento sexual no local de trabalho.
É, como se vê, uma realidade pesada, palpável, sentida e sofrida... ainda que de forma silenciosa!
E não é distante, porque não passa ao lado de cada um de nós. Está bem próxima de todos e, a qualquer momento e em qualquer realidade profissional pode ser-se vítima de uma prática não anunciada, invasiva do modo de ser e estar de cada um em liberdade.
Neste mesmo contexto, o III Inquérito Europeu sobre Condições de Trabalho afirma que cerca de 3 milhões de trabalhadores europeus já foram objecto de assédio sexual no local de trabalho.
É uma prática perversa que tem tendência a propagar-se no tempo, porque endémica, habitualmente escondida e silenciosa porque raramente assumida, transversal a todo o tipo de organizações laborais, não escolhendo sector, sexo ou idade! Isto porque o assédio sexual, para além de representar uma ofensa à dignidade do ser pessoa e do bem-estar do trabalhador é, também, uma forma de violência. Simultaneamente assume os contornos de discriminação uma vez que se baseia numa hierarquização desigual de poderes. O agente que agride fá-lo, supostamente protegido por uma capa de poder profissional, abrigado e escondido por uma pretérita ascendência hierárquica, confiante que o seu estatuto lhe garante autoridade e espaço para extravasar os limites da decência, violentando, de forma animalesca, os colaboradores.
É um sorriso que de simpático e acolhedor, se transmuta em esgar violento, que baba, ameaçador e asfixiante.
É um registo que de encorajante se traveste em oco, húmido porque repelente, de uma tonalidade baça, supostamente brejeiro, mas pútrido e fétido.
É um toque que de apoio se transforma em abusador, carícia suja, humilhante e embaraçosa, pornográfica porque não desejada.
É todo um estatuto que se desgasta e destrói, porque ao abrigo de uma parafilia, filha de uma total ausência de cordialidade e bom senso, imita, de forma abjecta, o instinto animal.
É uma perversão, silenciosa e silenciada, que se propaga através de gerações, alheia a contextos e cenários, doentia, abusadora, ilimitada, supostamente gerada por uma noção irreal de poder que não respeita limites, apenas subjugada pelo desejo doentio de atingir os fins desejados e continuar a alimentar a doença de forma insana, à custa de vidas que se destroem.
Manuel Damas in "O Primeiro de Janeiro" a 21/10/2007
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6 comentários:
É exactamente isto que se sente. Professor, muito e muito bem. bjs.
Obrigado, Jesus...Maria José!
Gostei. Uma vez mais PARABÉNS.
Obrigado, Francisco.
É a crónica, talvez um pouco dramatizada, de uma realidade de que não se fala!
Fala-se, sente-se... e lamenta-se.
É mais uma forma de violentar alguém...
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