sábado, 8 de março de 2008
PORTUGAL, JÁ!
Precisamente porque hoje é o Dia Internacional da Mulher e sei que as mulheres deste País também sofrem com a insanidade política que hoje vigora...
Precisamente porque hoje é também o dia da "Marcha pela Indignação"...
"Posto" aqui, com um avanço de nove horas, a crónica que amanhã será publicada no jornal.
É a título de manifesto desiludido, que ilustro com "A Maternidade" de Pablo Picasso
É a título de homenagem à mãe portuguesa que hoje não sabe se terá pequeno almoço para dar ao filho amanhã...
José Sócrates e eu não vivemos no mesmo Portugal!
São imagens diferentes de uma mesma realidade, talvez em espelho mas, nos antípodas.
No Portugal de Sócrates as crianças sorriem e saltam, felizes e contentes... no meu Portugal as crianças têm fome, são vítimas de trabalho infantil e de diversas formas de violência, sofrem de obesidade mórbida, não têm futuro sorridente.
No Portugal de Sócrates a população vive feliz e realizada...no meu Portugal a população arrasta-se, desiludida, preocupada em sobreviver aos impostos, aos empréstimos, às necessidades do dia a dia.
No Portugal de Sócrates é tudo sorrisos...no meu, não.
No Portugal de Sócrates vive-se...no meu sobrevive-se e a custo!
Ouvi e li, atónito, o discurso de Sócrates no “Fórum Novas Fronteiras”.
Achei sinistra a ideia de o colocar a discursar, aparentemente no meio da assistência...como se inter pares!
De um novo-riquismo bacoco e inusitado.
Sei que é uma cópia da estratégia de marketing usada por Barack Obama na corrida à nomeação para as presidenciais norte-americanas.
Mas, precisamente por isso é que se torna provinciana.
São personagens, palcos e graus de desenvolvimento diferentes.
Mas, principalmente, porque são realidades sócio-económicas diferentes...e é aí que assentam a ironia e o sarcasmo da situação. É precisamente por estas disparidades, que este tipo de campanha nunca deveria ser usado por Sócrates. Comparar as realidades americana e portuguesa é, no mínimo, esquizofrénico...faz lembrar o pobre que, ao domingo, veste o seu melhor fato para se ir exibir, passeando a prole no adro da Igreja, como se fosse rico mas, na realidade, não o conseguindo, o que deixa uma sensação de pobreza e de mediocridade. Fica uma imagem de fraca qualidade, descolorida...degradante!
Mas regressemos à suposta efeméride, ao palco e ao actor principal...
Que grande actor!
Que extraordinária técnica de representação!
Aos Óscares, já!
Mas uma dúvida...
Estamos a falar de que realidade?
Do Portugal 2008 não será, certamente.
Diz Sócrates...“As Novas Fronteiras são isto : uma assembleia de mulheres e homens livres.” ...E eu acrescento, esperançados não na construção de um projecto de país mas na recompensa a receber, o mais significativa possível.
Afirma mais adiante...“Não aceitamos um Estado capturado por interesses particulares e corporativos, nem paralisado pela burocracia.”...Na realidade, jamais se viu Portugal tão refém de alguns grupos económicos que, ironicamente, parecem agora querer esboroar-se, dilacerados por lutas e intrigas internas, guerras fratricidas que deixam vislumbrar estranhas manobras de corrupção e de favorecimento, lucros e benefícios até então insuspeitados, num somatório ainda impossível de quantificar e de delimitar.
E não é necessário temer que o país fique parado pela burocracia porque inerte, já ele está.
O país parou, sem honra nem glória, defraudado, desmotivado, incrédulo, incapaz de prosseguir, porque está sem rumo, fio condutor, projecto ou estratégia.
E mais à frente Sócrates argumenta...“A nossa atitude não é a resignação e o lamento. O país tem de sobra profetas da desgraça. Acho até que o país começa a ficar cansado do pessimismo profissional, como se o bem estar profissional de alguns dependesse da depressão colectiva que todos os dias tentam alimentar”... Na realidade a situação dos portugueses não é de resignação mas de incapacidade de lutar contra o descrédito, a injustiça social, a desigualdade cada vez mais gritantes. E clamo pelas populações do interior, acarinhadas no decurso das campanhas eleitorais e nunca, como até agora, tão enganadas, vilipendiadas, atiradas para a prateleira do esquecimento. Enumeremos, a título de exemplo, o fecho das maternidades, dos serviços de urgência, dos centros de saúde, das escolas, dos tribunais, das esquadras...Quais foram as populações mais afectadas? Indubitavelmente as gentes do interior, desprovidas, cada vez mais, de recursos, autênticos desterrados no seu próprio país, públicamente considerados cidadãos de segunda, ostracizados e esquecidos de forma vergonhosa e envergonhada.
E continua Sócrates...“Dizem alguns, repetindo slogans de sempre, que aumentaram as desigualdades em Portugal”... E eu contraponho com dados concretos...
A taxa de desemprego de 8%.
Os 70 mil jovens licenciados desempregados.
O aumento real dos impostos.
A diminuição dos benefícios fiscais dos idosos e dos reformados.
A redução drástica da comparticipação dos medicamentos.
A restrição insana dos benefícios fiscais dos cidadãos portadores de deficiência, um dos grupos sociais mais desprotegidos, ostracizados e abandonados pelo Estado e, acima de tudo, com menor capacidade de reivindicação.
A quebra assustadora do poder de compra, acompanhada a passo pelo aumento asfixiante do endividamento das famílias portuguesas e o aparecimento recente e preocupante de uma nova pobreza, formada e informada, envergonhada porque não habitual.
E vai mais longe Sócrates alegando... “Baixou o insucesso escolar .”...À custa de manobras de secretaria e de maquilhagem. Na realidade, os números do insucesso escolar baixaram, à custa de um facilitismo irresponsável e demagógico, promotor de analfabetismos mais preocupantes...uma moderna “ignorância diplomada”!
E, porque esta crónica já vai longa, apenas acrescento o consumatum est de Sócrates... “Há três anos tínhamos esperança. Hoje temos mais do que esperança : temos confiança.”...E eu, ouvindo isto, sinto-me incapaz de evitar um esgar desiludido, irónico mas, acima de tudo, preocupado.
Sentirá, Sócrates, aquilo que diz, o que é preocupante pelo evidente desfasamento da realidade ou apenas tenta vender uma imagem ficcionada, que sente e sabe ser irreal?
Sinceramente não sei...
Por tudo isto só me resta exigir...
Portugal, Já!
Manuel Damas in "O Primeiro de Janeiro" a 9-3-2008
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
14 comentários:
Li atentamente a sua crónica, concordo com tudo o que afirma. Não sei é se já é tarde para Portugal. Ainda é possível Portugal? Uma classe política que há anos esbanja o pouco que temos e um povo que tem que apertar sempre o cinto, que já não tem por ter sido penhorado!
CC...com toda a sinceridade, acho que Portugal ainda é possível?
Com ponto de interrogação?
Com muitos pontos de ???? e !!! e reticências ..... muitas.
Quando será que vem o ponto final para este afundar????
Beijosss
Lamentavelmente cheio de razão! Chega a ser arrepiante...
Olá!
Eu acho que nunca é tarde para mudar.
Temos é deixar de parte a inércia...e sermos activos!!
Beijos
Não CC...Com ponto final...mas já não com ponto de exclamação...
"olázinha"...não gostaria que isso acontecesse durante a vigência da minha "legislatura"!...
Um beijinho, Sandra.
Até para a mudança é preciso força e vontade, mjf...
Sou daquelas pessoas que acredita que existe ainda uma esperança, p/ a mudar todo esse cenário. O querer tem mta força, é preciso é querer lutar e ter energia suficiente p/ efectuar as alterações necessárias.
Seja bem vinda, Xanda...
Eu também, lá bem no fundo, ainda acredito que há uma hipótese. Mas a esperança tem vindo a gastar-se tanto nos últimos tempos!
:)))
Volte sempre.
beijito
Portugal JÁ! Claro que ainda vamos a tempo de salvar Portugal... mas não será com a ajuda de sócrates, devo dizer...
Esperança, tenhamos esperança!
Quando penso na situação, sinto uma revolta tão grande, mas não podemos baixar as armas... mas há que pensar que melhores dias virão.
bjiinhos ;)
Também eu quero continuar a ter essa esperança, "mac"...Também eu!
Enviar um comentário