sábado, 22 de março de 2008

MARIA DE LURDES RODRIGUES...


Tencionava escrever sobre as idiossincrasias da Páscoa.
Porém, como as lojas dos centros comerciais se encontram repletas de paroquianos imbuídos do espírito pascal, achei preferível que esta crónica versasse sobre Educação. Obviamente que fui influenciado pelo lamentável episódio ocorrido na Escola Secundária Carolina Michaelis, no Porto, durante uma aula de francês do 9º ano.
Assumo que vi e revi o vídeo diversas vezes.
Analisei as frases, os gestos, as reacções e as omissões!
Tenho-o, inclusive, guardado no meu computador...
Apetece-me dizer, de forma irónica e sarcástica, mas acusadora, que não consigo compreender a razão de todo o ruído gerado.
Não percebo o motivo de tanto espanto...
Eram perfeitamente expectáveis epifenómenos deste género, como consequência de toda a política desenvolvida pelo Ministério da Educação.
Após a tomada de posse da equipa liderada por Maria de Lurdes Rodrigues foram sendo veiculadas medidas que nada de bom indiciavam relativamente ao futuro do Sistema Educativo em Portugal.
Houve, inclusive, quem para isso alertasse!
Cheguei a escrever uma crónica exclusivamente sobre o assunto.
Tentar efectuar uma Reforma da Educação sem o apoio dos diversos agentes educativos e manifestamente contra eles seria impraticável e não indiciava bom prognóstico.
De início o Ministério tentou fazer passar a ideia de que os professores trabalhavam pouco, desvalorizando a sua qualidade e capacidade profissionais, esquecendo que isso apenas os iria fazer perder autoridade perante os alunos e pais, medida que se poderia vir a tornar de extraordinária periculosidade, como o tempo o demonstrou. A esta estratégia seguiu-se, como corolário, a introdução do conceito de Aula de Substituição. E neste aspecto, se em teoria o princípio surgia como razoável, na prática criou novos focos de tensão e assim se deu mais um passo no sentido da descredibilização da classe docente. Colocar professores de uma determinada área de formação a leccionar outras completamente diferentes para a quais não estavam nem se sentiam preparados, veio a demonstrar-se pernicioso...A título de exemplo, pôr um professor de Educação Física a leccionar Matemática ou Francês mais não faria do que descredibilizar o próprio perante os alunos, quebrando a fama de sabedor e expondo-o, vulnerável e fragilizado, aos olhos dos discentes. Deste modo destruiu-se, de forma irresponsável, o conceito do Professor enquanto pessoa detentora de saber e, como tal, respeitável. Logicamente que quem não é respeitável também não será temível e assim se pulverizaram duas características que, não sendo primordiais no exercício da docência ajudavam, todavia, à instauração do ambiente necessário ao saudável e ordeiro funcionamento de uma sala de aula.
E estas medidas foram sendo intervaladas com a produção de quantidades absurdas de nova legislação, carregada de grelhas, mapas e dados estatísticos para cumprir e preencher.
Vieram, depois, os concursos para Professor Titular iniciativa que, ao não disponibilizar vagas suficientes para todos os professores candidatos, gerou novos focos de tensão e de insatisfação.
Acresce que novas grelhas foram sendo produzidas, cada vez mais complicadas e burocratizadas, exigindo o respectivo preenchimento em prazos absurdamente curtos.
Seguiu-se o Estatuto do Aluno que, em vez de tentar simplificar e relativizar as coisas, criou novos focos de tensão dificultando, cada vez mais, a penalização dos discentes e garantindo-lhes uma quase intocabilidade, uma inviolabilidade, obviamente geradoras de exacerbações comportamentais.
“L’enfant terrible” passou a sentir-se vaidoso de o ser!
Com a reforma o aluno passou a surgir quase como entidade imaculada que urge proteger a todo o custo, inclusive nos momentos de avaliação. É nesta fase que deixa de poder chumbar por faltas e que são criados os diversos momentos de avaliação para um suposto processo de recuperação utopicamente facilitista.
E mais mapas foram surgindo do nada...
A tensão continuou a subir exponencialmente com a apresentação das novas regras para a progressão na carreira docente e o anátema de passarem a ser considerados, para efeitos na progressão, apenas os últimos sete anos de actividade, atirando, de forma injusta e inacreditável, para o lixo, todo um percurso de investimento profissional. Foi o Estatuto da Carreira Docente que, também ele, se tornou um foco gerador de descontentamento.
Colocar docentes a avaliar outros colegas, para além da subjectividade inerente gera um elevado potencial de conflitualidade que exacerbou, muito, o clima de instabilidade e de revolta que já se fazia sentir nos corredores das escolas portuguesas.
Em simultâneo, foi-se mantendo a obsessão oficial pelos gráficos, pelas grelhas e pelas estatísticas em detrimento da qualidade do acto de ensinar, desvalorizando, inclusive, o próprio processo de aprendizagem. Tornou-se implícito o branqueamento de todo o processo e das suas condicionantes, passando as estatísticas a ter primazia, com o óbvio intuito de falsear os dados referentes ao insucesso escolar.
Mas, o mais grave, é que os próprios discentes se aperceberam da realidade, fazendo-se sentir um esvaziamento do binómio mandar/obedecer e tornando obsoleta a normal e lógica responsabilização pelo acto de aprender.
Perante o caos gerado e o descontentamento subsequente, verificou-se aquilo que seria impensável anos antes e nenhum Ministro da Educação tinha conseguido até então, por mais polémico que fosse o seu mandato...A união, em plataforma, numa frente única, de todos os Sindicatos relacionados com a Educação, independentemente da sua origem ou até dos seus referenciais ideológicos. E tal facto redundou, numa manifestação nacional de repúdio que colocou na rua 100.000 professores...
100.000 pessoas unidas por um fim comum...a queda da Ministra da Educação e a substituição da sua política.
E este é um facto incontornável.
E não é fácil combater a dinâmica gerada pela manifestação de semelhante contingente de pessoas unidas pelo e para o mesmo fim.
100.000 professores, vindos de todo o País, de todas as faixas etárias...a maior manifestação de sempre da classe docente.
A reclamar!
Pela educação!
Perante isto, apenas sobra uma única solução à entidade responsável...
Obviamente, demita-se!
Manuel Damas in "O Primeiro de Janeiro" a 23-3-2008

29 comentários:

Olá!! disse...

Obviamente.
No entanto, fica o alerta para alguns Pais... ai dos meus filhos que fizesse uma cena destas numa aula. Por muito que não aceite a conduta de alguns professores exijo que os meus filhos os respeitem.
Mas tem razão em tudo o que foca Professor, e deixo como exemplo o seguinte.
Um dos meus filhos tem a mesma professora de educação física há dois anos. Se teve desde o inicio deste ano meia dúzia de aulas praticas foi muito, as restantes foram aulas de substituição, onde os miúdos de 11 anos foram fechados em salas a fazer o que lhes “disseram”. No final do período a nota dele foi 3, provavelmente porque pratica ginástica desportiva, extra curricular, senão seria ... zero????

SILÊNCIO CULPADO disse...

Manuel Damas
Uma Páscoa Feliz cheia de amêndoas, folares e chocolates e, sobretudo, que seja um ressurgimento de sonhos, esperanças e vontade de construir.

Um abraço apertado

Zé do Cão disse...

Palavras sábias, Professor Dr..
Todavia já há uns anos que se vinha a adivinhar que mais cedo ou mais tarde isto vinha a acontecer. Aliás, vai acontecer muito pior. São mas minha provisões....
Vim aqui para lhe desejar
Santa Pascoa
Muitas Amendoa
Folar ma mesa

Com cumprimentos do

bisturi disse...

Ora bem... Culpados disto... se os há temos de recuar no tempo e olhar o presente.
1º Todos os ministros de educação que fomenatram o facilitismo , o laxismo no ambiente escolar.
2º Esta ministra que de uma forma escandalosa desautoriza professores, com a ânsia desmedidas de números falaciosos ( passa-se sem nada saber, penaliza-se quem ensina).
3º A desadequação dos programas das disciplinas é gritante e desmotivante, quer para quem ensina quer para quem aprende.
3º Depois, os pais se auto-excluiram da educação dos filhos e passsaram a responsabilidade para a exclusiva competência da escola, aulas de tempo inacreditável e antipedagógico, profusão de disciplinas e aulas de pseudo substituição, FACHADA com o beneplácito dos paizinhos e o seu aplauso entusiasta!
4º Todos os políticos que assobiam para o tecto e não enfrentam a realidade.
5ºA inversão do ónus da prova em casos deste calibre é chocante, por isso, e por muito mais, é que os docentes não se queixam mais vezes porque são vistos como alguém que não consegue controlar e cativar os alunos,com as respectivas consequências : penalização na progressão na carreira, processos demasiadamente longos com manutenção do status quo que retira autoridade a quem é ofendido.
Não sei para onde vamos assim!

gaivota disse...

obviamente, demita-se!!!
tenho dito!!!
e tenho eu netos a ter que ir para a escola... e uma das minhas filhas depois de já ter acabado uma licenciatura, vai ingressar pela via de ensino.............
páscoa feliz, em paz e saúde,muita saúde
beijinhos

QZ disse...

Sei que nada tem a ver com este post, mas que tal um programa sobre a metafísica do sexo? Assim de repente só me recordo de dois ou três autores que trataram sobre o assunto.

Uma Feliz Páscoa!

BlueVelvet disse...

Embora concorde com tudo o que diz, não aceito que este comportamento, que também foi alvo de um post meu ontem, seja desculpabilizado, seja por que razão for.
Não digo " se fosse um filho meu" porque sei que um filho meu não teria tal comportamento.
Pergunto, como perguntei no meu post: que espécie de pais tem esta rapariga? Qual terá sido a reacção deles ao verem este vídeo?
Beijinhos e veludinhos e BOA PÁSCOA

Manuel Damas disse...

zero não porque esse daria uma trabalheira para o conseguir atribuir....:))))))
Um Beijinho grande, "Olá" e boa páscoa, dentro do possível!

Manuel Damas disse...

Um beijo grande, "silêncio" e adorei a parte do folar...
Na terra dos meus avós havia um folar delicioso...
Um beijinho para si também e uma fantástica Páscoa...

Manuel Damas disse...

Oh Zé...concordo, em pleno, consigo.
Um abraço grande e votos da melhor Páscoa possível!

Manuel Damas disse...

Subscrevo na totalidade.
Um abraço, "bisturi" e votos de uma Feliz Páscoa.

Camilo disse...

Feliz Páscoa.

macaw disse...

Boa Páscoa!!!!
desculpe vir tão tarde! já cá estive antes, mas ao ler este post aborreci-me e fui embora!
volto mais tarde!

bjiiinhos ;)

Eli disse...

(...)

Tanto para dizer sobre este assunto... este post não teria mais fim se assim o desejasse.

Já tinha passado por este blog, mas penso nunca ter comentado. Hoje, vim para parar e deparei-me logo com a ... ministra...

Ora bem, gostaria de lembrar que há cerca de dois anos atrás foram publicados através de um canal de televisão português uns vídeos amadores que revelaram explicitamente "agressão ao professor". Houve uma entrevista a um determinado secretário de estado, que representava o Ministério da Educação. Quando questionado sobre essas imagens, ele afirmou com toda a convicção que só existiam esses vídeos dessa amostra, que tinham escolhido a escola pior, onde apenas na dita se passavam essas situações de violência contra docentes, ou seja, situações pontuais.

Eu poderia ter recolhido amostras dessas de um cantinho Ocidental português, precisamente nessa altura... ou então, no centro do país... porque elas existem. Não sei qual é o espanto das imagens que passaram na TV, recentemente. Eu digo: aquilo não é nada comparado com o que já presenciei!

Há quem diga que os professores colocam muitos atestados. Se (quem diz ou pensa isso) fossem passar um dia a trabalhar com certas turmas, concerteza que inventaria mais um papel só para esses docentes tivessem o direito de irem para casa sem passar pelo médico!... Concerteza que não se passaria desta forma, mas creio que me fiz entender. No entanto, ir para casa não resolveria coisa alguma! Mas, se reduzissem o número de turmas a metade, concerteza que aumentariam as possibilidades para ambas as partes (professores e alunos) de um melhor rendimento escolar. É algo tão simples de se fazer... principalmente para uma Ministra que diz que os problemas não são financeiros!!!

Não há salas?! Então e aquelas escolas que fecharam?! Em vez de retirarem os alunos de lá, deveriam levá-los para lá, de forma a não desertificar cada vez mais as nossas povoações, mas enchê-las de vida com crianças.

Não aspiro a Ministra, mas uma solução destas iria ajudar todos! Até o pessoal não docente estaria de acordo.

Mas... o que é que acontece?! Eu sei bem que fizeram de escolas, restaurantes...

Não dói?!

(hmmmmm)

[suspiro]

Penso que para primeira vez, estou safa! Prolonguei-me o suficiente para que se pense mais neste assunto?!... Talvez não seja necessário que se pense, mas que se faça!

:)

Anónimo disse...

Esta "Sinhora" anda a sonhar com os passarinhos amarelos a bailarem à sua janela, ainda não acordou para a realidade nem que apercebeu que vai dar um grande "tralho" do ramo da árvore onde habita.
Macacadas só no circo...

FM disse...

Olá e... Boa Semana! (sorrisos)

mik@ disse...

olá

eu fiquei um bocado chocada com as atitudes dos miudos hoje...

ser professor tem muito que se lhe diga. porque aturar os filhos dos outros e educá-los não é fácil :S

hum... cada vez fico com menos vontade de ter filhos pra os colocar neste mundo caótico.

boa semana professor,
espero que tenha comido muitas amendoas de chocolate :)

Manuel Damas disse...

Oh "gaivota"....o ensino, neste momento, não é uma via...é um desvio!
Um beijinho grande e boa Páscoa

Manuel Damas disse...

A sugestão é um desafio, "luce"...
Ficará em agenda.
Mas neste momento temos uma primeira linha de programas, perfeitamente obrigatórios...

Manuel Damas disse...

Obrigado pelos votos"blue", ainda que tenha admirado a ausência dos cetins...

Manuel Damas disse...

Obrigado pelos votos de boa Páscoa, "mac", que retribuo e aos quais acrescento um monte de beijinhos...

Manuel Damas disse...

Faço minhas as suas palavras doridas, "eli".
Um beijinho grande

Manuel Damas disse...

Oh Patrícia...só lá vai mesmo com a explosão de todo o arvoredo...Já não basta a queda da árvore nem sequer do ramo!

Manuel Damas disse...

Uma boa semana para si também, Francisco!

Manuel Damas disse...

Oh "micas"...comi muitas mesmo...de todas!!!!
:))))))))))))))))))))))
Beijitos!

Maria disse...

Numa tentativa de acabar com o trabalho infantil e possibilitar a educação a toda a gente obrigamos todos a andar na escola, até aqueles que não querem de todo lá andar e só prejudicam quem quer aprender.
O professor não pode bater,porque não se dão castigos corporais; o professor não deve mandar para a rua porque isso é estar a empurrar para outros um problema de disciplina que não conseguiu resolver na sala; o professor não pode fazer praticamente nada porque grande parte das nossas crianças tem pais sem tempo para perceber o que se está a passar e elas (crianças) vivem em função do hoje e hoje elas estão num ensino obrigatório que quase não lhes consegue ensinar nada mas que é obrigado a aturar-lhes as más educações e elas aproveitam-se disso

Manuel Damas disse...

Oh Maria...mas se o professor não pode bater no aluno, explique-me como se eu fosse muito burro...Porque pode o aluno bater no professor?
Beijinho grande...

Maria disse...

POis é meu caro Damas isso eu não consigo perceber quanto mais explicar

Manuel Damas disse...

Ainda tive a ténue esperança de que a menina tivesse conseguido perceber aquilo que eu não consigo...