1ª EMISSAO DO SAM, AGORA A FRIO...

Fazer televisão, hoje, é um desafio enorme porque cada vez mais os momentos têm que ser bons e eficientes senão...plofff. Implode e esfuma-se. Momentos depois já ninguém se lembra do sucedido mas, a janela de oportunidade fechou-se, em definitivo!
Depois, falar de Sexualidades é de extraordinário risco pela facilidade com que se perde o pendor científico e se chega ao sexo e à brejeirice. As Sexualidades e os Afectos prendem-se com o que de mais íntimo temos e torna-se fácil, por uma questão de máscara de protecção, fugir para a leviandade...
Além de que, fazer televisão em directo, assemelha-se a um percurso, permanente, no fio da navalha...Alto risco, sempre presente, porque nada pode ser deixado ao acaso, um caminhar sem rede e sem protecção, tendo que existir, sempre, mecanismos e estratégias para reagir e lidar com as mais diversas situações.
Depois, para além de ser em directo, o exponencial de risco eleva-se, muito, pelo facto de existirem, também em directo, chamadas telefónicas, mensagens e e-mails...também por isto o risco aumenta de forma exponencial.
O horário disponibilizado também não é o mais protector. Um programa a falar de Sexualidades, à sexta-feira à noite, às 0.30, quando já as telenovelas acabaram, as "crianças" já foram dormir e o fim de semana se inicia, são tudo factores que aumentam o risco...porque libertam as inibições, as condicionantes e os mecanismos censórios e permitem o libertar de pulsões, qual catarse, que se pode tornar imprevidente e imprevisível.
Por último, ainda que não em último, as elevadíssimas expectativas que, à medida que o tempo ia passando e, em especial, na última semana, foram crescendo, tornaram o momento ainda mais ansiógeno.
Cada amigo ou conhecido que lançava a frase terrível "Vai correr bem. Tem que correr bem!", em vez servir de libertador de tensão mais não era, em concreto, do que um novo reforço do stress que já vinha aumentando!
Em termos concretos o que as pessoas diziam, ainda que de forma não explícita era..."Eu vou estar a ver, mas vocês não podem falhar!"
Precisamente por isso é que nos últimos dias eu fui tentando aliviar a tensão, comigo, com a Maria José e mesmo com quem comigo falava sobre o programa, dizendo que a importante e decisiva seria a segunda emissão, porque a primeira teria todas as atenuantes possíveis e imagináveis...Reconheço que foi uma tentativa dispicienda mas tentava, assim, esvaziar um pouco o balão que, qual espada de Demócles, imperava sobre as nossas cabeças!
Estava também presente o nosso sentido de responsabilidade e de profissionalismo que, involuntária mas obrigatoriamente exigia de nós o máximo de qualidade e de produtividade.
Além de que, e devo assumi-lo, nos últimos dias fomos sendo bombardeados por notícias sobre a concorrência que, mais inseguros, nos tentavam deixar...
Com todas estas condicionantes, estava criado um verdadeiro "melting pot" e, resultar em pleno, seria uma quase total improbabilidade.
Mas as estatísticas e a teoria das probabilidades não são inquestionáveis nem invioláveis!
Penso que conseguimos, em plenitude, o que nos propusémos, sem falsas modéstias.
E essa noção de dever cumprido, com qualidade, satisfaz e seduz.
Mas aumenta, também, o gradiente de exigência para as próximas emissões!
Acho, contudo, que vamos conseguir porque, decididamente, sabemos o que queremos e sabemos como fazê-lo!