FUMAR...

Um dono de um café chamou a polícia porque um cliente tinha um cigarro aceso dentro do seu estabelecimento, não cumprindo a lei.
Acabou multado por ele próprio não a ter cumprido, ao não afixar os dísticos que permitiam aos clientes saber antecipadamente se naquele local se podia ou não fumar...até porque, como a polícia demorava a chegar, o cliente acabou calma e tranquilamente de fumar e foi-se embora...
Uma notícia pequena e discreta mas que merece algumas considerações.
Com esta Lei, abre-se novamente a hipótese de vir ao de cima a face negra e oculta do português, a sua pior característica...
A bufice!
É histórico!
É oficial!
Foram muitos os momentos da História, em Portugal, em que foi possível e estimulada uma atitude de denúncia, de delação e de colaboracionismo, dando espaço à capacidade de intriga dos portugueses.
E não foi, apenas, o resultado de centenas de anos de Inquisição!
E não foi, apenas, o resultado de dezenas de anos de Salazarismo e de actos de denúncia que, normalmente, terminavam na PIDE.
É,quase, uma característica do mapa genético dos portugueses.
Deste modo poderão vir a renascer as ortodoxias fundamentalistas de uma pseudo moral e bons costumes...
E esta possibilidade pode começar pela proibição de fumar.
Estou à vontade...
Fui fumador durante 25 anos.
Deixei de fumar há, cumprem-se hoje, precisamente 5 meses!
Mas não me tornei fundamentalista...tal não faz parte do meu perfil.
Reconheço, todavia, todas as potencialidades de geração e de alimentação dos pequenos ódios e das pequenas intrigas que esta Lei permite.
Mas esta mesma notícia intrinca-se com uma outra que refere que o Presidente da ASAE, António Nunes, o mesmo homem que diz sempre que não faz a lei e que se limita a cumpri-la, violou-a ao fim de duas horas de ela estar em vigor.
No Casino do Estoril, às 2 horas da madrugada de 1 de Janeiro de 2008.
Subitamente, António Nunes torna-se compreensivo em relação à leitura que se pode fazer da própria lei.
Mas esta questão levanta algumas dúvidas, nomeadamente com a possibilidade de pessoas, enquanto entidade nominal ou colectiva, poderem achar-se no direito de se julgarem acima da Lei, o que torna perverso o conceito de Democracia.
Talvez sem relação visível, o porta-voz do PS, Vitalino Canas, entende que Ferro Rodrigues tem uma visão «distorcida pela distância» ao considerar que o Governo tem de ter «menos arrogância».
É Portugal, no seu melhor, em 2008!